Por Antônia Tavares
Este poema é dedicado à Ministra do Meio Ambiente Marina Silva. Todo mundo e o mundo todo sabe que a Marina é um mistério. Tal qual uma esfinge – e, como Clarice Lispector, ela própria é um labirinto. O sistema ainda teima em perguntar: como pode uma preta, filha de família humilde, que foi analfabeta até a adolescência, chegar ao Senado da República sem ser para limpar o chão? E, ainda mais, ocupar, meu Deus, a cadeira de Ministro? Sim, é verdade. Talvez, esse seja o grande mistério de Marina. Sim, ela é uma mulher e carrega suas opiniões, suas crenças, seus valores – e talvez, só talvez, esse também seja um dos mistérios de Marina. Quanto mais mistério, maior é o poder de uma mulher. Oh, céus! E não podemos esquecer da fatalidade: Marina foi amiga de Chico Mendes, e, sim, Marina é filha do Cumpadi Pedro, da Cidade Nova! Uh! Marina tem tantos mistérios...Mas o maior de todos eles é que ela é uma fêmea que tem dois braços e anda com os pés na cabeça.
O Segredo da Mulher
Toda mulher guarda sobre si um segredo que é só seu,
aquilo que só ela sabe sobre si mesma.
Se for revelado, seus poderes são destruídos,
diziam os antigos, de olhos fundos como os rios antes da cheia.
No fundo do peito, sob a pele da noite,
há um nome jamais pronunciado.
Está guardado entre as costelas,
onde a lua derrama seu vinho invisível.
Este segredo é seu brilho sagrado,
a luz de sua estrela, o seu maior tesouro.
Ninguém pode vê-lo —
nem os homens de palavras de ferro,
nem as sombras que se arrastam pelas paredes da casa.
Ele é fio e faca, cicatrizante e lume,
é a força de uma floresta que renasce
depois do fogo ter lambido sua raiz.
Se alguém o ouvisse, ele seria vento dissipado,
seria seiva vertida no chão seco,
seria pássaro sem rumo, esquecendo a dança do voo.
Por isso, a mulher caminha em silêncio,
mesmo que tentem enforcar a sua fala,
sabendo que seu segredo é maré oculta.
Ela sorri, porque dentro dela
há um nome que só a terra e os deuses conhecem:
o segredo dela.
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