Por Edir Figueira Marques
É preciso deixar claro que o título de coronel, aqui empregado, não se refere à patente militar.
Pesquisando a história do Brasil, verificamos, no canal MUNDO EDUCAÇÃO, no site da UOL, que a origem dos coronéis que exerciam o seu domínio local está no período imperial, durante o século XIX. Com a criação da Guarda Nacional, os latifundiários aliados do governo central recebiam o título de coronel para que exercessem o seu domínio em sua região e evitassem qualquer tipo de revolta.
Para o povo, o título de “coronel” e de outras patentes da escala hierárquica se equivaliam a títulos nobiliárquicos que impunham uma relação de dependência e medo com aqueles que, em suma, passaram a deter o poder de mando em sua região, determinando as regras, com seus prêmios e castigos. Daí derivou-se o clientelismo e o consequente “voto de cabresto”, cuja tentativa de extinção se deu com a “revolução de 1930, por Getúlio Vargas.
No decorrer da história, por analogia, todos os ricaços comerciantes, fazendeiros, industriais passaram a ser chamados de “coronel”, particularmente no nordeste. Com o tempo, foi-se deteriorando o título tão respeitável e estas pessoas que detinham certa liderança, poder e riqueza passaram a ser chamadas, pejorativamente, de “coronel de barranco”!
Com este esclarecimento e situados no tempo histórico, vamos entender melhor a história que vou contar.
Morava no Rio de Janeiro, mais especificamente, em Copacabana, um promissor empresário, que, após o expediente em seu escritório no centro da cidade, reunia-se com seus amigos cearenses.
É claro que era cercado de amigos com quem dividia farras homéricas. Dizem que o passaporte para as noitadas que patrocinava era um litro de wisky debaixo do braço. Sua fama foi crescendo e com ela o apelido de “coronel Quincas” se sedimentou e assim ficou conhecido por todos.
Numa dessas noitadas, um dos amigos saiu já bastante alcoolizado em direção à Ipanema e, como era de se prever, bateu o carro. A polícia chega e o leva para a delegacia.
O telefone toca na casa do “coronel” informando-o que seu amigo fora detido na delegacia de Copacabana.
Ia esquecendo de registrar um detalhe importante nesta narrativa: o “coronel”, como bom nordestino que era, adorava uma rede e, sem qualquer constrangimento, recebia seus companheiros de farra, do jeito que sempre estava em sua casa, de cuecas samba-canção.
De um pulo, o “coronel” Quincas levantou-se da rede, vestiu uma camisa e com mais uns dois amigos, todos biritados, zarpou para a delegacia!
De chofre, também os três foram presos por dirigirem bêbados e o motorista sem documentos e, pasmem, só de cueca!
A notícia se espalhou entre aqueles que ainda estavam desfrutando da noite de boemia no apartamento do dito “coronel”. Acorreram todos à delegacia policial que, a esta altura, se encontrava apinhada de curiosos.
Como os que chegaram para socorrer o anfitrião estavam embriagados, os policiais impediram o acesso de mais outro “magote” de bebuns.
Um deles, “menos chumbado” ousou explicar, alterando a voz:
- Viemos ver o que aconteceu com o “coronel” Quincas!
Na época da ditadura militar no Brasil, não se questionavam as autoridades e muito menos quem tinha patente de oficial ou usava fardas engalanadas, a partir de uma estrela no ombro. Ressuscitava-se o temor popular que estava latente na memória social.
O policial de plantão se assustou:
- Como é? Quem é coronel aqui?
O amigo mais ousado esclareceu:
- O que está de cueca!
Nisso, o policial mandou todos aguardarem. Era de madrugada. Falou com o delegado, que, apavorado, repreendeu o policial:
- Solte o coronel, imediatamente!
E, cheio de mesuras, se desculpou com o pretenso oficial:
- Foi sem minha ordem! Como se prende um coronel?
Todo solícito, entregou uma toalha para que o tal “coronel” se enrolasse e libertou a chusma de baderneiros envolvidos nesta pândega.
Curados da carraspana, depois desse susto, saíram da delegacia, dando vivas ao “coronel” Quincas e voltaram ao apartamento para comemorar o ocorrido, pois, por um triz, poderiam estar dormindo no xadrez!
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