Por Jairo Lima
Depois de viver uma boa jornada, enfim cheguei à versão 6.0. Percebo que a minha interação com o tempo mudou. Já não tenho tanta pressa. As relações do passado, presente e futuro assumem novas dimensões. Observo o passado com saudade elegante e o futuro com alegria contida. O presente é uma dádiva tangível demais para os olhos, então me basta senti-lo.
Foi assim que refleti sobre o “prazo de validade”. Sim, cada um temos um período para decifrar os códigos da vida e edificar uma história. E essa história é a moldura da trilha para o tal prazo de validade. Tudo em aparente entrelaçamento caótico. Qual nada! Envelhecer é inexorável, amadurecer não. O tempo – mesmo que não percebamos – vai encaixando cada peça no seu devido lugar.
Quase todos perdemos as referências e tornamo-nos brisa a partir da segunda geração. Nossas histórias findam nos nossos netos, da mesma forma como a história dos nossos avós acaba aqui.
Alguns alargam as suas existências além dos “muros familiares”. Raros são eternos. Para o bem e para o mal, estes marcaram profundamente a humanidade. Quem não reconhece Mozart, Gandhi, Freud, Einstein, Pelé, Hitler?
A viagem do viver é ligeira, mas o tempo é particularmente relativo e cada um toca o pistom com os tons da sua própria partitura. A vida é um presente. Viver é divino. E não importa o tal prazo de validade. Porque, no final, a lembrança do sorriso é perene. E, nesse ponto, parece impossível dissociar o ser da sua obra. O sorriso da Deise, por exemplo, acolhe, ilumina e espalha amorosidade graciosa. Porque ele – o sorriso dela – não reconhece e nem respeita fronteiras.
A reflexão que proponho não despreza percepções históricas. Mas é difícil embutir a perfeição da obra de Da Vinci em sua vida. Ou os traços geniais de Van Gogh às pautas sinuosas da sua jornada. De fato, a escritura que apresento busca algo mais simples, menos erudito. Até porque Cartola, Noel Rosa, Lampião ou a irmã Dulce não foram eruditos, mas deixaram obras e vivências formidáveis. Pensar em Zé Leite, Hélio Melo, Dadão, ou no Jó (empina Jó!) nos coloca no lugar do tempo e do espaço em construção. E assim seguimos.
Quase sempre a escala espacial e temporal da existência está vinculada às realizações. Mas a validade do viver não está intrinsecamente associada à obra. Viver a plenitude das suas próprias incertezas é para os sábios. E os sábios não morrem.
O que restará de mim daqui a 200 ou 500 anos pouco importa. Não sou sábio. Não produzi grandes obras (para o bem e para o mal). Estou inteiro no quadro daqueles quase insignificantes.
Relevante mesmo é o tempo de vida que sorri e os sorrisos que estimulei.
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