Por Renata Dal-Bó
Hoje, preparando-me para dar uma palestra no curso “Educação & Diversidade: Crônicas para exercer a empatia”, idealizado pela minha querida amiga e escritora Sissa Moroso, lembrei-me da segunda crônica que escrevi para o Diário do Sul, há nove anos, quando começava minha carreira de cronista e escritora. Nela falava sobre os cronistas que fizeram parte de minha vida, pois muito antes de começar a escrever, fui uma leitora voraz de crônicas.
A crônica, assim como eu, vive na fronteira entre o jornalismo e a literatura. Do latim, a palavra “crônica” (chronica) refere-se a um registro de eventos marcados pelo tempo (cronológico); e do grego (khronos) significa “tempo”. Além de ser um texto curto, possui uma "vida curta", ou seja, as crônicas tratam de acontecimentos “corriqueiros” do cotidiano. Portanto, elas estão extremamente conectadas ao contexto em que são produzidas. No entanto, por outro lado, as crônicas escritas hoje, podem servir de registros históricos importantes para as gerações futuras. Esse gênero literário me conquistou por usar uma linguagem, simples, leve e descompromissada. Por meio da crônica, que pode ser bem-humorada, reflexiva ou poética, colocamos uma lupa em nossas vivências, transformando o ordinário em extraordinário.
No Brasil, a crônica tornou-se difundida com a publicação dos "Folhetins" em meados do século XIX. O primeiro grande cronista brasileiro foi Machado de Assis, que no Brasil Império usava suas crônicas para criticar o governo, falar da vida cultural da cidade e fofocar sobre a corte. Depois dele, vieram outros cronistas de peso: Rubem Braga, que teve a característica singular de ser o único autor nacional de primeira linha a se tornar célebre exclusivamente através da crônica. O mineiro Fernando Sabino, autor de “O homem nu”, primeiro livro de crônicas que li na minha vida e que me fez ficar fã do gênero.
A lista não pára por aí, felizmente o Brasil está muito bem servido nesta área. Cronistas maravilhosos continuam contanto suas histórias em revistas e jornais de todo o país. Como não vou conseguir citar todos eles, vou falar dos meus cronistas favoritos: adoro ler Mário Prata, que representa um marco no renascimento da crônica de costumes bem-humorada. O gênio Luis Fernando Veríssimo, autor de best sellers como “Comédias da Vida Privada”. E, finalmente, minha “ídola” maior, que traduz em suas crônicas as angústias e anseios da alma humana, Martha Medeiros.
Em uma de suas últimas entrevistas, o poeta Carlos Drummond de Andrade falou sobre a crônica de jornal, ofício a que se dedicou por muitos anos. Ele disse: "Eu considero o meu ofício de cronista, o de uma espécie de palhaço que dá cabriolas, dá saltos, faz molecagens, para distrair um pouco o leitor comum. (...) O cronista é realmente um homem que diverte os outros.”
Diante de todas essas feras fico pensando: que audácia a minha mudar de lado, passar de leitora a escritora. Quanta responsabilidade!
Sem dúvidas, a leitura destes cronistas foi fundamental na minha formação como escritora. Devo a eles minha escrita. Por isso, a partir da próxima semana começarei a série “Cronistas de minha vida”, na qual falarei sobre os grandes cronistas brasileiros, que tiveram uma enorme influência na minha constituição como leitora e escritora. Até lá!
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