Por Renata Dal-Bó
Por favor, não me crucifiquem pelo título da crônica. Tenho plena consciência das milhares de perdas que tivemos durante a pandemia e do quanto a Covid-19 está sendo devastadora para todos nós, nas esferas econômica, social e psicológica. E para completar, temos um governo que mais atrapalha do que ajuda, elevando o Brasil aos primeiros lugares no ranking em relação ao número de mortes pelo coronavírus.
No entanto, não posso deixar de enxergar um lado positivo da pandemia. Um exemplo disso é que, apesar do distanciamento social que estamos vivendo (pelo menos a parte da população que respeita as recomendações da Organização Mundial da Saúde), conseguimos nos aproximar de pessoas que estão distantes, devido aos avanços tecnológicos que ocorreram durante a pandemia. A grande popularização de aplicativos de comunicação digital, como o Zoom, Skype e outros, auxiliaram na conexão entre pessoas de todos os tipos e para todos os fins.
Particularmente tive momentos realizadores por causa desses recursos. Na qualificação do meu projeto de tese de doutorado, por exemplo, tive o privilégio de ter em minha banca professoras doutoras de outros estados e cidades, além da participação do meu pai e parentes que moram em Minas Gerais. Certamente, muitos deles não estariam presentes se a qualificação fosse presencial. Outra realização foi a possibilidade de entrevistar no programa Bate-Papo Literário, que apresento na Unisul TV, escritores que admiro muito e que, provavelmente, não seria possível se não fosse pelas plataformas digitais. Tive o prazer de ter no programa uma das maiores cronistas do país, Martha Medeiros, de quem sou muito fã. E hoje, talvez enquanto vocês leem esta crônica, estarei entrevistando Maria João, neta de Zélia Gattai e Jorge Amado. Maria João é coordenadora de comunicação da Casa do Rio Vermelho, local onde o Zélia e Jorge viveram por 40 anos e hoje abriga um memorial, com o intuito de preservar e difundir a memória do casal mais ‘Amado’ do Brasil.
A pandemia nos possibilitou viver em um mundo sem fronteiras, no qual podemos ter acesso a locais e pessoas que, talvez, não teríamos se não fosse de modo virtual. É claro que seria muito mais interessante se pudéssemos estar nos lugares ou com as pessoas presencialmente, mas depois que passar esta terrível pandemia, teremos essas duas opções para escolhermos conforme a viabilidade do momento.
É claro que hoje o lado ruim da pandemia é tão gritante, que nos impede de aproveitar as coisas positivas sem sentirmos uma enorme culpa. Mas, o fato é que o mundo nunca mais será o mesmo e nossas vidas sofrerão mudanças importantes, tanto boas quanto ruins. Que possamos aproveitar as oportunidades proporcionadas pela pandemia para crescermos, realizarmos sonhos, vivermos melhor e nos tornarmos pessoas mais capazes. Contribuindo, assim, para que o impacto do coronavírus seja um pouco menos negativo.
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