Por Marcelo Moreira
Início da semana, acordo e leio as péssimas notícias de mais de duas mil mortes por dia de COVID-19, o estado do Acre sofrendo com os casos de internação, e um surto de dengue ao mesmo tempo. Aqui no Rio de Janeiro, o negócio tá feio. Logo me dou conta de como era bom tomar um café na padaria do portuga Manoel Praia. A resenha das segundas de manhã, que está suspensa por causa da pandemia, são as melhores. Os acontecimentos esportivos do fim de semana ainda estão bem vivos na memória e aquela vontade de zoar os amigos. É obvio que o esporte dominante é o futebol. Hoje porém, aguardo a hora certa e quando puxo o assunto "a motor", um ou outro se ausenta, mas a resenha rola frenética. Que saudade. Com essas lembranças fui comprar remédios e meu caminho passa em frente a padaria.
Quando chego perto, vejo Filé de Borboleta, conversando com o "Borracha". Dono da borracharia aqui no bairro, originalmente era Jorge Negão, mas agora é racismo, então ficou Jorge Borracha ou George, como ficou conhecido na coluna, depois que George Russell se destacou na Mercedes do Hamilton. Filé, é Motoboy raiz e trabalha na comunidade. É Filé porque é tão magro que dá para estudar os ossos do corpo humano nele. No Rio de Janeiro, toda favela tem serviço de motoboy, para levar o povo lá em cima.
- O barato é tirar dos "expelho", tá ligado, costuma dizer.
- Filé! Gritei. Vou te colocar na minha crônica.
- Não tenho nada contra, mas eu sou homem, entendeu? Gosto de mulher, tá ligado, respondeu ele.
-Que isso Filé, vou colocar seu nome no texto do jornal, reafirmei.
- Ah beleza então, tá ... Jornal é? Coloca aí também que entrego qualquer bagulho. Meu primo Beto Transporte, tem caminhão.
- Pode deixar, confirmei, já vencido pela empolgação do Filé.
Os dois falavam de mim. Filé, com ar desconfiado, explicava ao Borracha coisas estranhas no vídeo que eu tinha mostrado a ele:
- O cara (eu) falando que as "moto" custa pra lá de milhão, tá ligado. Tô vendo no vídeo a moto saindo do box, não tem descanso e nem partida elétrica. Pega no tranco, tá ligado! Aí eu pensei, caô. Daí perguntei pro Marcelinho (eu) onde que essas "moto" tão a venda. Peguei ele. Falou que as "moto" não estão à venda, são propósitos (falei protótipos), confirmei o caô, mentira dele, afirmou Filé.
Retirei da fala de Filé, muitas vezes a expressão "tá ligado", porque é cansativo ouvir, imagine ficar lendo tudo com o "tá ligado". Prefiro poupar o leitor dessa chatice repetitiva. Chegando mais perto, percebi Borracha me olhando...distante, parecia procurar algo, me analisando. Para acabar com o mal entendido resolvi explicar logo para eles a diferença entre motos protótipos e motos de série:
- Pô Filé, não sabe de nada e ainda fica me chamando de mentiroso. Olha o Borracha acreditando em você. Isso não se faz... Reclamei.
Protótipos, em se tratando de MotoGP e F1, são máquinas fabricadas exclusivamente para as pistas. Ninguém vê um Fórmula 1 andando pelas ruas, porque são feitos só para competir. Você não vai encontrar uma motocicleta MotoGP à venda nos concessionários da marca. Por isso Filé estranhou a ausência de partida elétrica e descanso, são bólidos feitos apenas para andar em circuito fechado e em altas velocidades. As motos protótipos são muito mais caras que as motos de produção em série, porque se utilizam de avançados equipamentos de tecnologia e materiais nobres na sua fabricação.
Ao contrário, o Superbike é formado por motocicletas preparadas para as corridas, a partir de uma moto de fabricação em série, comprada em qualquer loja. No SBK, o espectador reconhece a marca e o modelo das motos que estão na pista. Também são caras, pois o regulamento permite que se troque muitos itens da moto por produtos de altíssima qualidade e elevado preço final.
- Ah... entendi mais ou menos Marcelinho. Respondeu Filé, ainda meio desconfiado.
- Você não entendeu tudo porque é um ignorante. O Marcelinho explicou muito bem, me defendeu Borracha.
E assim, me despedi deles e fui embora pra não virar aglomeração.
Nos testes da F1, esta semana, a própria equipe Mercedes afirmou que o carro da Red Bull, está um passo à frente. Mas é cedo para jogar a toalha, principalmente, em se tratando de Mercedes e Hamilton. A Ferrari afirmou que acabou com o problema de velocidade em reta. Podemos ter um campeonato disputado por quatro pilotos, o que já seria fantástico. Ainda mais com a possibilidade de vitória de Vettel, a garantia do show de Alonso, e a agressividade do garoto Leclerc.
É, vai ser um campeonato emocionante.
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