Por Jairo Lima
Tomar decisões não é fácil. Imagina, então, quando envolve vidas humanas. Os caminhos parecem fáceis, mas não são. Entender o ordenamento e a hierarquia para a tomada de decisão carece observar os princípios básicos da gestão: política; plano; programa; e projeto. Essa é a ordem. Mas não basta entender. O ciclo deve ser constantemente melhorado de modo a obter maior aderência à realidade e maximizar resultados. Para isso há os indicadores.
Indicadores frágeis resultam em políticas erradas, planos e programas desconexos, projetos equivocados e sem compromissos com a realidade e sem visão de futuro. Nestas condições, os resultados são desastrosamente previsíveis, sem eficácia, caros e demorados. Alguma relação com o desalento em que vivem os brasileiros atualmente? Difícil é não perceber a tremenda cilada que o discurso vazio e a falta de gestão nos preparou.
Nos últimos tempos o Brasil foi varrido por uma profusão de acontecimentos e notícias indigestos para qualquer paladar. E a raiz deste cenário está exatamente no desprezo pelo planejamento. Ficamos parados observando o vírus chegar, crescer e assumir dimensões exponenciais. Além da incompetência gerencial, temos que conviver com o desprezo pela vida (dos outros, diga-se) e o apego ao negacionismo estéril. Na outra ponta, uma parcela da população descarta as instruções e as orientações para a prevenção da doença e torna-se, involuntariamente, cúmplice no rastro de dor resultante do morticínio brutal que assola as casas brasileiras.
A gestão na saúde brasileira mais parece uma casa de caba assanhada. As pessoas não se entendem, ninguém assume o compromisso de falar a verdade para a população. Tudo na base do improviso. O senhor da logística envia vacinas para Manaus, mas o avião pousa em Macapá. Uma delegação brasileira viaja para Israel em busca de um “novo tratamento”. Trata-se de um spray em fase experimental. E tudo isso com custos e diárias pagos pelo povo brasileiro. Ah! Importa saber que aqueles “nobres representantes” do governo brasileiro não sabem a diferença entre vírus e bactéria.
Chegamos à média diária (móvel) de absurdas 1.645 mortes por covid-19. Significa que ao concluir a leitura desse texto, mais um brasileiro morreu, mais um coração brasileiro parou de bater. Faltam-nos remédios, insumos, vacinas, leitos hospitalares e, agora, vivemos o esgotamento dos profissionais em saúde. E o que se observa por parte das autoridades é o completo despreparo para lidar com a situação. Como chegamos até aqui? Quais alternativas dispomos? Perguntas difíceis, respostas incertas. O governo não foi capaz de fazer previsões, de realizar planejamento. As vacinas prometidas vão minguando a cada nova entrevista. A campanha de vacinação está em xeque. E as nossas vidas parecem apenas peças num jogo de tabuleiro.
A continuar essa escalada insana pouco restará da nossa história, além da dor quase insuportável de perder amigos e parentes todos os dias. O tempo do luto tornou-se extensão do próprio cotidiano. E ficamos à espera das vacinas salvadoras, mesmo tendo que enfrentar uma turba mal-acabada que teima em desafiar a vida e atentar a morte. Para muitos, enquanto a vacina não vem, resta rezar.
Amém.
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