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A Pandemia e a Comunicação Não Violenta - por Luciano José Trindade

Certamente a maior parte de nós se encontra em situação semelhante àquela das pessoas procuram um advogado: estão vivendo um conflito

18/04/2020 às 17h14
Por: Denis Henrique Fonte: Redação
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A Pandemia e a Comunicação Não Violenta - por Luciano José Trindade

Alcançamos a marca de um mês desde que se adotaram as diversas medidas emergenciais, em especial o distanciamento social, para enfrentamento da pandemia COVID-19, causada pelo Coronavírus SARS-COV-2.

Com isso passamos a viver uma experiência inédita, limitante, desconhecida e desconfortável.

Certamente a maior parte de nós se encontra em situação semelhante àquela das pessoas procuram um advogado: estão vivendo um conflito.

Qualquer pessoa nessa situação tende a se fechar, buscar segurança para si e ser mais agressiva com o outro. Ou seja, toma atitudes que intensificam o conflito e isso sempre ocorre através da comunicação, seja verbal ou não verbal. Não por acaso nas últimas semanas as redes sociais se tornaram mais tóxicas.

Por outro lado, tem havido enorme divulgação e procura de material e eventos de Comunicação Não Violenta - CNV, um método fantástico descoberto por Marshall Rosenberg para reconexão e resolução de conflitos individuais e coletivos.

Segundo a CNV tudo começa porque não temos consciência de nossas próprias NECESSIDADES BÁSICAS e não buscamos satisfazê-las. Assim ficamos carentes daquilo que nos é essencial, daí surgem EMOÇÕES dolorosas e responsabilizamos os outros por esse mal-estar. Assim produzimos uma linguagem julgadora/acusadora/violenta contra o outro, ao invés de simplesmente pedir aquilo que queremos.

Os passos para desenvolvermos uma Comunicação Não Violenta são os seguintes:

1)    OBSERVAÇÃO: precisamos ficar apenas com o fato, ao invés de fazer um julgamento/interpretação. Por exemplo, se X está falado muito, o fato é que  “X está falando muito”, então dizer que X quer aparecer ou chamar atenção é uma interpretação/julgamento. Se Y ouve e fica calado, o fato é apenas que “Y ouve e fica calado”, então dizer que Y não dá importância ou é insensível é uma interpretação/julgamento. 

Algo essencial para desenvolver o primeiro passo (observação) é a capacidade de escuta empática, ou seja, ouvir o outro sem a intenção de dar resposta, de dizer se está certo ou errado. Para isso precisamos nos transportar para o contexto do outro, onde sua fala faz sentido. Empatia significa isso, nos dispormos a ouvir e sentir o outro em seu contexto, na sua história, no seu ponto de vista.

2)    PERCEBER AS NECESSIDADES (segurança, reconhecimento, valorização, liberdade, apoio, etc). Todos nós temos necessidades básicas, geralmente ligadas a causas ocultas/inconscientes (traumas vividos ou padrões familiares sistêmicos).

3)    PERCEBER AS EMOÇÕES (raiva, medo, ansiedade, frustração, etc). As emoções sempre são nossas, são sentidas por nós conforme o estado das nossas necessidades básicas. Se as necessidades são atendidas sentimos emoções agradáveis e de bem-estar, já se não são atendidas sentimos emoções desagradáveis e de mal-estar.

Mas se não temos consciência de que nossas emoções decorrem de necessidades nossas, então quando estamos experimentando raiva, medo, ansiedade ou frustração essas emoções influenciam nosso estado mental e nos levam a ver o outro como causador do mal-estar. Então o outro vira um adversário e tem que ser derrotado a qualquer custo. Assim adotamos o discurso vítima (bem) x agressor (mal).

Esse ESTADO MENTAL (decorrente das emoções de dor) cria milhares de argumentos (provas) para justificar a posição de vítima. Não adianta alguém vir e mostrar outra visão. A vítima só ouve a si mesma e tende a ser agressiva contra quem procura lhe trazer consciência (Bert Hellinger fala que a vítima é perigosa).

4)    PEDIDOS CLAROS E OBJETIVOS. O outro não é obrigado a adivinhar nossa real necessidade. Precisamos comunicar e pedir clara e objetivamente aquilo que queremos.

Portanto, os passos da CNV demonstram que os conflitos decorrem de uma situação de inconsciência que produz uma linguagem violenta. A pessoa não reconhece suas reais necessidades, não percebe as emoções que está sentindo nem as confusões mentais que expressa.

Se houvesse consciência tudo seria diferente. A pessoa saberia suas reais necessidades, reconheceria as causas ocultas dessas necessidades (traumas vividos ou padrões sistêmicos) e perceberia as emoções que emergem quando essas necessidades não são satisfeitas. Consciente disso, a pessoa faria pedidos claros e objetivos, de modo que o outro saberia aquilo que ela realmente quer.

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Luciano José Trindade

Advogado, Presidente da Comissão de Direito Sistêmico da OAB/AC

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