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ACRE EM NOTAS | O direito de Marina é o direito de todas nós

Quando o machismo se disfarça de debate

28/05/2025 às 14h11
Por: Redação Fonte: Acreaovivo.com | Assessoria
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ACRE EM NOTAS | O direito de Marina é o direito de todas nós

Por Socorro Camelo e colaboradores*

Misoginia

Há cenas que dispensam legenda, mas exigem reflexão. O episódio ocorrido no Senado, nesta terça-feira, 27, é uma dessas. A ministra Marina Silva, mulher, negra, amazônida e uma das maiores referências mundiais na defesa do meio ambiente foi alvo de um espetáculo constrangedor de misoginia disfarçada de debate político.

Direito

E que fique claro desde o início: não se trata aqui de concordar ou discordar de suas ideias, nem de defender partido A ou B. O que está em jogo é algo anterior, mais básico e, ao mesmo tempo, mais grave: o direito de qualquer mulher, de qualquer pessoa ser tratada com respeito. O mínimo, o elementar.

Grotesco

O que se viu não foi um embate de ideias. Foi uma tentativa grotesca de desqualificar não a ministra, mas a mulher. Não o argumento, mas a existência. Com direito a um senador que, talvez imaginando estar nos anos 1950, afirmou:

“Falo com a ministra, não com a mulher, porque a mulher merece respeito; a ministra, não.”

Dignidade

O microfone cortado, o tom alterado, os dedos em riste e uma frase que é um retrato do atraso: “Se ponha no seu lugar.” Pois é. E foi exatamente isso que ela fez. Levantou-se, recolheu sua dignidade que nunca esteve em risco e deixou a sala. Porque, ao contrário do que pensam alguns, “o seu lugar” não é aquele reservado aos submissos. É o lugar das mulheres que fazem história, que constroem pontes, que incomodam justamente porque existem, pensam e não se calam.

Mulher na política

Não é a primeira vez que Marina enfrenta isso. E não será a última. Porque ser mulher, ser mulher na política, ser mulher na política e na Amazônia é, ainda hoje, um ato de resistência diária. A tentativa de desqualificação não é só pessoal. É simbólica. Ela carrega o recado velado e, neste caso, escancarado de que, para certas mentalidades, mulheres só são aceitas enquanto concordam, acatam e sorriem. Fora desse script, tornam-se alvo.

Não está só

Mas há algo que homens assim não entenderam e talvez nunca entendam. Marina não está só. E não está de passagem. Sua história já está escrita nas florestas, nas conferências internacionais, nas leis, na memória de quem luta e de quem sonha um país menos bruto, menos machista e mais digno.

Vergonhoso

O episódio de ontem foi, sim, vergonhoso. Para eles.

Para ela, fica mais um capítulo da longa história das mulheres que sabem muito bem onde é o seu lugar: é onde a gente quiser!

O Acre conhece

Quando Marina era candidata ao Senado, fazia modesto comício na praça em frente à prefeitura. Na esplanada do Palácio, outro candidato machista, tentava no palanque zombar dela. “Quem é essa professorinha, para querer representar o Acre no Senado Federal?” dizia. Marina foi avisada da desfeita e fez uma fala histórica, mostrando que aquela “professorinha” representava os trabalhadores e o povo do Acre, defendia as teses necessárias, tinha a vivência de quem sobreviveu a doenças e à pobreza e conquistou seu ligar por esforço próprio. Foi eleita e o outro candidato teve que engolir suas palavras.

História

Quem tem a história de vida e de lutas de Marina? Ela sobreviveu à leishmaniose e a malárias, ainda que com graves sequelas a sua saúde, foi alfabetizada só no fim da adolescência, cedo se engajou nas lutas populares, foi parceira de Chico Mendes, se graduou com méritos, alcançando o doutorado em sua área, até ser considerada uma das maiores lideranças ambientais do mundo. É essa mulher que querem calar na marra?

Operação

Uma operação policial ontem, em doze estados, realizou ofensiva para desarticular quadrilhas organizadas em promover crimes cibernéticos de extrema gravidade, especialmente os direcionados a crianças e adolescentes. Combateu redes que promovem a automutilação e o suicídio, perseguição, ameaças, produção e compartilhamento de materiais de abuso sexual infantil na internet, apologia ao nazismo e invasão de sistemas, incluindo o acesso ilegal a bancos de dados públicos.

Líderes

Foram apreendidos dois adolescentes, um de 15 e outro de 16 anos, em Campo Grande, um deles pela segunda vez. Ainda na segunda feira, a mãe de uma adolescente conseguiu impedir a automutilação da filha na plataforma Discord, e, em contato inusitado  contato com o agressor, ela ameaçou a mãe e a adolescente, afirmando que era “dono de sua filha”.

Regulação

É por essas e outras que a regulação das redes sociais é tão importante. No caso dos adolescentes apreendidos, é urgente responsabilizar os pais, pelo menos, omissos. Para as famílias, mais que nunca é necessário o diálogo com os filhos, em especial meninas pré-adolescentes, vítimas fáceis desses crimes.

Proteção

A liberdade da juventude e o respeito à privacidade não se sobrepõem à necessidade de proteção contra a exposição a esses abusadores, pedófilos, assassinos, que ganham dinheiro transmitindo ao vivo as mutilações, quem sabe, até mortes, para outros doentes como eles. Claro que o pano de fundo contempla a apologia ao nazismo e da violência que, a cada dia, estão sendo normalizados nessa louca sociedade.

*Socorro Camelo é jornalista e escreve neste espaço toda semana.

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