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ACRE EM NOTAS | Acre e China

Entre a Nova Rota da Seda e a ferrovia transcontinental, o estado pode deixar de ser periferia geográfica

14/05/2025 às 14h45
Por: Redação Fonte: Acreaovivo.com
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ACRE EM NOTAS | Acre e China

Por Socorro Camelo e colaboradores*

Destino

O destino do Acre está intrinsicamente ligado à China, que pode representar o capital para o desenvolvimento do estado, que tem faltado até agora. Esta semana, o presidente Lula está na China e, entre os temas tratados está a Nova Rota da Seda, iniciativa que pretende aproximar a China do mundo exterior, com investimentos e projetos de infraestrutura. Inclui injeção de dinheiro sem precedentes em cerca de 150 países, agora mirando a América Latina.

Multilateralismo

A ideia é romper a bipolaridade econômica, dos centros tradicionais do poder, a relação abusiva Norte-Sul e tornar a China um parceiro confiável e solidário. Entre suas ações na China, Lula participa do encontro da CELAC, que reúne 17 chefes de estado da América Central e do Sul para debater propostas de investimentos. O que já está acertado com o Brasil, intermediado pela APEX de Jorge Viana já chega, este ano, a 15 bilhões de dólares de investimentos.

Alternativa

O presidente Xi Jinping quer evitar que o governo Trump reedite o Plano Marshall, um programa de ajuda econômica dos Estados Unidos que tornou o mundo dependente da América, a doutrina Trumam, para livrar a América Latina do que julgavam ser a ameaça do comunismo e que pôs a região sob o jugo econômico daquele pais. Trump já reiterou que vê a América Latina como seu quintal, o que as iniciativas chinesas querem contestar, com o apoio de Lula e outros presidentes da região. 

BRICS

O principal esteio econômico e financeiro dessas iniciativas tem sido a estrutura do BRICS, que cada vez mais se apresenta como alternativa econômica, incluindo negócios em moedas próprias, fugindo da camisa de força do dólar.

E o Acre?

Por mais um século relegado à periferia do mundo, o Acre este em uma posição geopolítica especial, é o caminho de integração entre o Oceano Atlantico, ao leste, e os portos chineses no Pacífico, a oeste. É o caminho mais recomendável para a saída da ferrovia de integração, posição reconhecida na última semana pela Ministra Simone Tebet, do Planejamento, que  acompanhou Lula na China. 

Esquecida

Historicamente a Amazônia Ocidental foi terra esquecida. E pensar que até a véspera do início do século XX a região ainda constava em mapas bolivianos e peruanos como “terra não descoberta” e que a região do Acre só era lembrada no Brasil pela qualidade da borracha que era extraída em regime de semiescravidão na região. A Bolívia só se interessou pelas terras, dando a justificativa para a Revolução Acreana, por pressão dos capitalistas americanos que queriam explorar a área da forma mais predatória possível.

De costas

A ministra Simone Tabet analisou bem que os países andinos e o Brasil permanecem de costas uns para os outros, apesar da imensa fronteira comum. A integração econômica é praticamente nula. Ao ponto de vastas regiões fronteiriça do Peru, absolutamente abandonadas pelo governo central, sonharem com a anexação ao Brasil. Com o Acre oferecendo, ainda que modo precário, serviços básicos que seu país não consegue prever. 

Mudança

Essa realidade está prestes a mudar. A proposta da ferrovia, que muitos julgavam uma utopia, está se solidificando. A China tem tecnologia de ponta nesse setor, que usa para integração de seu imenso território. Nessa ligação, abre-se a possibilidade de intercâmbio entre os países da região. Foi a ministra Tebet que lembrou que a Bolívia é rica em lítio e fertilizantes, que o Brasil precisa e que poderia negociar em troca de proteína animal e produtos básicos, que o Acre tem possibilidade de oferecer a um custo viável.

Cavalo arriado

Dizem que, na vida, na política e na história, o cavalo só passa arriado uma vez, oferecendo para ser montado. Ou o Acre aproveita essa chance ou vai continuar lamentando o abandono e a falta de perspectivas.

União e muito trabalho

Para isso, é necessário muito trabalho, técnico e político, a formulação de propostas, de projetos, de alternativas econômicas que possam justificar o investimento. Não pode acontecer com essa proposta da ferrovia, com as benesses que pode gerar, o que aconteceu com a ferrovia Madeira Mamoré no começo do século XX que, de polo de integração e de intercâmbio comercial, acabou destruída pela inércia de governantes e pela força da floresta, que foi reconquistar o espaço tomado a ela. A hora é agora.

*Socorro Camelo é jornalista e escreve neste espaço toda semana.

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