Por Socorro Camelo e colaboradores
Roubalheira
O que mais espanta no caso do INSS, não é o escândalo recorrente de corrupção, mas a facilidade com que se perpetua um esquema criminoso que rouba milhares de aposentados e pensionistas à luz do dia, por anos e anos seguidos. Espanta a desfaçatez, a cara de pau dos bandidos travestidos de autoridades, a leniência dos governos, das estruturas de controle para detectar e impedir as fraudes.
Tempo
Pensava-se que o esquema tivesse começado por volta de 2019, mas já se descobriu que é ainda mais antigo. Pode ter sido uma década de roubo nas contas dos contribuintes. Entra governo e sai governo, todos mamando nas tetas da corrupção, em especial contra os mais carentes e desassistidos. Ninguém é santo nessa história. Há um cancro dentro da Previdência e até um caderno de contabilidade da propina.
Ponta do iceberg
E essa é só a ponta do iceberg da falta de cuidado com os trabalhadores, aposentados e pensionistas, que são alvo preferencial de golpistas, de bancos e financeiras que assediam o segurado massivamente oferecendo toda sorte de empréstimos e cartões, sem explicar o prejuízo que causarão na aposentadoria ou na poupança do FGTS. E o INSS é completamente omisso, deixando não só fluir essas falcatruas, como se omitindo de oferecer o suporte mínimo de segurança para o público que deveria proteger.
Sem apoio
Sempre que um segurado reclama de um desconto não autorizado, de um golpe, de uma contratação induzida pela lábia de supostos consultores financeiros de bancos desconhecidos, a resposta do INSS é que se deve procurar a instituição bancária. Lava as mãos, descobre-se agora, com absoluta conivência.
O pior tipo
Esse golpe como o do INSS é o pior tipo de corrupção que pode existir, pois tira dos mais pobres, engana aqueles que se deveria proteger. E, ao contrário do que a divisão ideológica do país pode levar a pensar, não existe lado certo quando se fala em fraudes, desvios, enganação. Direita e esquerda estão com os narizes enfiados na lama. E não adiante querer culpar o adversário. Todos, nesse caso, são criminosos.
Administrado
Nada é tão mal administrado nesse país quanto a Previdência. Quanto mais se cava, mais problemas aparecem. E o pobre trabalhador, aposentado, os pensionistas, pagam o pato e ainda são apontados como responsáveis pelo déficit fiscal. Não, são vítimas.
Assustador
Um dado assustador: de cada 10 brasileiros, ou 9% da população entre 15 e 29 anos, três podem ser considerados analfabetos funcionais. Isso significa que, mesmo sabendo ler e escrever, são incapazes de articular uma frase, de entender uma operação aritmética senões, de se expressar por escrito de modo coerente, de entender um texto escrito. Isso é extremamente grave.
Superior
O dado ainda consegue ser pior. O analfabetismo funcional atinge um em cada oito estudantes ou formandos de nível superior. Há gente nas universidades que não sabe ler nem escrever e que não entende sequer os mais simples argumentos. A pergunta é: como chegaram lá?
Progressão automática
O problema começa na escola pública, onde, de repente, ficou proibido reprovar alunos. Todos têm que passar de ano. Não se entende quem bolou essa farsa. O professor sabe que o estudante não tem a mínima condição, mas é levado a aprovar. Isso cria gerações de analfabetos e que chegam aos mais elevados estágios da educação.
Cobrança
O nível de cobrança é muito baixo. Vá um professor exigir muito e corre o risco até de agressão. Essa semana, uma professora foi agredida em sala de aula em uma escola pública porque pediu para o aluno desligar o celular, que já é proibido no período de aulas. Estudantes chegam à quinta série sem saber ler. As provas são óbvias, de múltipla escolha, tudo é superficial.
Famílias
Famílias abdicam do dever de ensinar os filhos e delegam tudo à escola, sobre qual ainda exercem uma vigilância e censura ideológica. Agora mesmo, em Rio Branco, profissionais da educação municipal lutam por seus direitos e a prefeitura finge que não é com ela. Cria centenas de cargos comissionados e não tem um tostão para a Educação.
Chat
No ensino superior e mesmo no exercício das profissões, ninguém mais escreve. O chat GPT e outras inteligências artificiais fazem os trabalhos. Nas redes sociais, seja em legendas, seja nos raros textos, os erros são brutais. E ninguém reclama.
Conveniente
Depois se critica, por exemplo, quem defende educadores como Paulo Freire, como Anísio Teixeira, como Darcy Ribeiro. Não é negligência, é uma política de impedir o pensamento questionador nas escolas, a disseminação da linguagem, da crítica e da cultura. É um projeto de dominação. Estão criando gerações de analfabetos que são mais fáceis de serem manipulados.
*Socorro Camelo é jornalista e escreve neste espaço toda semana.
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