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ACRE EM NOTAS | Nana Caymmi: a força de uma voz que jamais será silêncio

Polêmica, visceral, brilhante ela não cantava para agradar, cantava para existir

02/05/2025 às 13h17
Por: Redação Fonte: Acreaovivo.com
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ACRE EM NOTAS | Nana Caymmi: a força de uma voz que jamais será silêncio

Por Socorro Camelo e colaboradores

Federação

A anunciada federação entre Progressistas e União Brasil formou o que se chama de um partido-ônibus, onde cabe de tudo. Serão 109 deputados, 14 senadores, mais de 1.300 prefeitos. O primeiro e maior desafio será buscar unidade em meio a tantos interesses, posições e necessidades diferentes.

Tamanho

O tamanho do novo partido garante facilidades na participação em comissões no Congresso e, especialmente, um quase infinito fundo partidário e eleitoral. Seria o melhor dos mundos? Talvez. Mas cada deputado, senador, prefeito, governador e liderança é uma ilha, cada um com suas conveniências políticas.

No Acre

O Acre é um dos grandes testes para a nova federação. Na tentativa de atrair ao menos cinco novos senadores para garantir liderança folgada, não dá para deixar bons nomes pelo caminho. É o caso de Alan Rick, líder disparado em todas as pesquisas até aqui. E até Márcio Bittar, em menor grau, porque já está com saída anunciada para cerrar fileiras com Bolsonaro.

Alan Rick

Em política, não existe vácuo. Em todas as pesquisas, a resiliência de Alan Rick na liderança para o governo mostra que ele será peça essencial na sucessão. Já vem sendo sondado por diferentes forças políticas para alianças e quem não está olhando para ele, está distraído.

Tração política

Sobre isso, o articulista Valterlucio Campelo, em artigo publicado na imprensa local, acerta ao reconhecer o que já se comenta nos bastidores: Alan Rick ganhou tração política e hoje é nome competitivo para 2026. Com atuação firme no Senado, trânsito entre diferentes campos e crescente apoio popular, o senador representa uma renovação com experiência. A “pipa pegou vento”, como bem disse o autor e segue subindo com direção.

Como fica?

Em política, tudo pode acontecer. Inclusive, nada. O cenário tende a permanecer em banho-maria, enquanto posições se sedimentam. Cabe ao governador a difícil missão de tornar sua candidata, Mailza Assis, competitiva e de pacificar o Progressistas, que por enquanto ensaia mais passos que decisões.

Esquerda

As pesquisas mostram, também, que a esquerda acreana não está tão desprestigiada quanto se anunciava. Jorge Viana mantém a liderança para a segunda vaga ao Senado, e a busca agora é por um nome com densidade eleitoral para o governo. Talvez não para vencer, mas para impulsionar a eleição de Jorge, deputados estaduais e federais. Muito ainda dependerá das marés políticas até o fim do ano.

Fim da trégua

Acabou a trégua. As principais facções criminosas do país, CV e PCC, romperam o acordo firmado em fevereiro. A razão? A mais velha de todas: dinheiro. O mercado de drogas está em alta e, como todo mercado lucrativo, estimula concorrência. Foi assim que a guerra recomeçou e que o Acre voltou a ter papel central no mapa da violência.

Fronteira

A fronteira acreana, pouco vigiada, continua sendo um atrativo para o transporte de cocaína e armas vindas da Bolívia e Peru. Não há colocação, propriedade rural, terra indígena ou reserva que não tenha sentido a pressão do tráfico. O Acre, antes dominado pelo PCC, foi tomado pelo CV, a exemplo do que ocorre hoje na Bahia. E o governo federal ainda busca alternativas para enfrentar essa situação.

Morte

O Brasil perdeu uma gigante da música. Nana Caymmi, uma voz poderosa, uma presença extraordinária, uma vida que foi um turbilhão de acontecimentos. Polêmica, mas de um talento absurdo, como toda a família, Nana carregou a herança musical do pai, Dorival Caymmi, enquanto seus irmãos, Dori e Danilo, traçavam caminhos próprios e igualmente geniais.

Entrevista

Tive a honra de entrevistá-la quando ainda era uma “foquinha” no jornalismo. Eu, nervosa, fã assumida dos Caymmi e dela especialmente esqueci todas as perguntas assim que ela chegou. A intensidade da artista que eu tanto admirava se desmanchava numa simplicidade arrebatadora. Nana me deixou à vontade como quem entende o silêncio e a timidez dos outros. Falamos por horas. Sobre música, saudade, vida. Ela ria alto, dizia o que pensava sem medo de errar o tom como fazia nas canções. Ao final, eu sabia que não tinha feito a entrevista perfeita, mas tinha vivido um momento inesquecível com uma mulher que foi maior do que a pauta, maior que as polêmicas, maior que o tempo.

Polêmica

É por falar em polêmicas, não demorou para que ressuscitassem as notícias políticas após a morte de Nana: seu apoio a Bolsonaro, críticas a Gilberto Gil, seu ex-marido e a Caetano. Idiossincrasias da idade, talvez. Mas que em nada diminuem sua importância, talento e a vida dedicada à arte. Nana é maior do que isso.

Sem consenso

Nana não era feita para o consenso. Cantava com raiva, com ternura, com aquele fundo de dor que só os grandes artistas sabem transformar em arte. Tinha a alma desafinada das mulheres que viveram demais e que já não pedem licença para dizer o que pensam. Era filha de Dorival, irmã de Dori e Danilo, mas foi, acima de tudo, Nana. Insubmissa, única, poderosa.

Contramão

Fez da contramão sua direção. E continuou grandiosa. Porque seu lugar era o palco, o piano, a emoção crua. Partiu deixando silêncios, como só os gênios fazem. Mas não nos deixou vazios. A sua voz ficou.

*Socorro Camelo é jornalista e escreve toda semana neste espaço.

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