ACRE EM NOTAS | A Reserva cobiçada

Por Socorro Camelo e colaboradores*

Reserva

A Reserva Extrativista Chico Mendes nasceu de um sonho de preservação da floresta, com possibilidade de sustento de seus moradores extrativistas. Já na época de sua criação, que sempre marcou por ser um tributo ao líder seringueiro barbaramente assassinado, gerou controvérsias por sua grande área que atravessava vários municípios.

Resistência

A verdade é que a reserva só se manteve pela resiliência de um grupo de moradores, fiéis ao projeto original. Desde sempre enfrentou invasões, venda ilegal de propriedades, ameaça à floresta, que fizeram com que seja a segunda reserva natural mais ameaçada do país, perdendo apenas para uma no Pará.

Apreensão

A operação que apreendeu 7.500 cabeças de gado na reserva, gerado multas de mais de R$ 7 milhões comandada pelo ICMBio e Polícia Federal, na última semana, pode mostrar uma ainda sutil mudança de postura, com uma ação um pouco mais firme de manutenção de sua destinação original. Mas ainda é uma gota d’água contra as reais ameaças.

No meio

Situada no meio da érea de ampliação do agronegócio do estado, a reserva é cobiçada por grileiros, fazendeiros, supostos empresários. Mas o grande paradoxo é que pode gerar lucros muito maiores com projetos sérios e bem construídos de restauração florestal e na venda de serviços ambientais.

Restauração

A Petrobras está interessada, especialmente, em financiar, junto com o BNDES programas de restauração florestal na Amazônia, com futura geração de créditos de carbono. Seria uma das compensações ambientais propostas para obter a licença de exploração de petróleo na chamada Margem Equatorial. É uma oportunidade que não dá pra perder e que, ainda, pode garantir a preservação da histórica reserva e do sonho de seu inspirador.

Consulta

O governo do estado está fazendo necessárias consultas aos povos indígenas para a continuidade do programa REDD+, com as negociações de créditos de carbono. As populações tradicionais têm direito a 70% dos recursos oriundos desses programas. Seria bom inserir também extrativistas e ribeirinhos nessa análise, para garantir a amplitude da participação popular.

Rondônia

O estado vizinho enfrenta dois problemas que não são estranhos ao Acre. O primeiro é o efeito das enchentes, especialmente do rio Madeira, com grandes prejuízos à economia. O outro grande problema é a explosão da violência das facções. Mais de 10 pessoas morreram e dezenas ficaram feridas durante os ataques que amedrontaram Rondônia em janeiro, em ação que durou aproximadamente uma semana. Só agora, este mês, que 12 suspeitos de envolvimento na onda de violência foram denunciados.

Retaliação

A polícia rondoniense afirma que os ataques foram retaliações do Comando Vermelho às ações policiais que aconteceram no Orgulho do Madeira, um conjunto habitacional dominado pela facção. A morte de um cabo da Polícia Militar (PM) deu início aos ataques. A situação foi controlada depois de muitas mortes, mas a situação ainda é muito tensa nos bairros da periferia de Porto Velho.

Escritoras

A Associação de Jornalistas e Escritoras do Brasil (AJEB), coordenação de Rondônia, celebra três anos de existência com uma programação que coloca escritoras e jornalistas em evidência, reconhecendo o papel da literatura feminina na construção da identidade amazônica.

Valorização

Na Assembleia Legislativa de Rondônia, o exemplo veio em sessão solene realizada nesta segunda-feira (29), com a entrega de votos de louvor às autoras da coletânea “Vivências Amazônicas”. A homenagem, proposta pelo deputado Delegado Camargo, reconheceu publicamente a contribuição das escritoras para a cultura da região.

O Acre também esteve representado pela escritora Edir Marques, vice-presidente da AJEB/AC, uma das participantes do livro.

Já no Acre…

Já no Acre, enquanto as estantes se enchem de talento, a AJEB local lançou recentemente a antologia “Letras de Mulher”, reunindo 37 autoras, o silêncio da Assembleia Legislativa segue absoluto. Faltam mulheres que escrevem? Não. Faltam livros? Também não.O que falta, definitivamente, é iniciativa dos senhores deputados e a compreensão de que cultura também é matéria de interesse público.

Artistas

O Acre, tanto na capital como no interior, tem uma vida artística que precisaria ser apoiada, para formar uma identidade cultural ainda mais forte. O Amazonas e o Pará descobriram a cultura como forma de impulsionar a diversificação econômica. O festival de Parintins, com sua expansão de eventos em Manaus, o carimbó e danças regionais em Belém, com manifestações típicas em todo o interior, no Pará, são experiências plenas de êxito. Rio Branco tem uma tradição de São João das mais originais do Norte do país.

Na frente

Em nova pesquisa divulgada nesta segunda-feira, 28, o senador Alan Rick aparece liderando todos os cenários simulados para o governo do Acre. Mesmo com a entrada de novos nomes na disputa, Alan manteve vantagem consistente e consolidou sua posição como o preferido do eleitorado acreano. O resultado reforça a musculatura política do senador, construída ao longo de sua trajetória pública, e aponta que ele entra no jogo sucessório com recall de mandato e forte capilaridade social.Ainda é cedo para definir o cenário final da eleição, mas o movimento confirma Alan Rick como o principal nome na disputa estadual.

Senado

A Delta Agência aponta também o governador Gladson Cameli como líder disparado para o Senado no Acre. Em qualquer cenário, a primeira vaga parece já ter dono. A briga mesmo está pela segunda cadeira, disputada ponto a ponto entre Jorge Viana, Mara Rocha e Marcio Bittar. Enquanto os adversários ainda tateiam para ver quem sobrevive à disputa, Gladson, fiel ao seu estilo, vai levando a eleição com a leveza de quem sabe que ninguém tira dele essa liderança.

*Socorro Camelo é jornalista e escreve neste espaço toda semana.