Por Socorro Camelo e colaboradores
Papa Francisco
O Papa Francisco será lembrado não só por sua fé inabalável, mas por ter sido um dos poucos líderes mundiais a olhar a Amazônia e seus povos nos olhos e defendê-los. Com coragem, ternura e uma crítica certeira aos que exploram a floresta e transformam seus guardiões em estorvos.
Puerto Maldonado
Em janeiro de 2018, ele esteve em Puerto Maldonado, na fronteira do Acre com o Peru. Ali, diante de 3.500 indígenas entre eles, representantes de povos acreanos fez um alerta histórico: “os povos indígenas originários nunca estiveram tão ameaçados quanto agora”. E denunciou o avanço do neoextrativismo, do ouro, do petróleo e da monocultura como forças predadoras da vida amazônica.
Eco
Mas foi além. Criticou também políticas que, em nome da preservação, excluem os próprios habitantes da floresta. Referia-se ao comércio de créditos de carbono que ignora os direitos indígenas e extrativistas. Uma crítica límpida, que ecoa ainda hoje. O Papa conhecia o jogo por dentro e denunciava com clareza quem manipulava até mesmo as boas causas.
Um Brasil à parte
Se há exceções, o Acre é uma delas. Sua política de serviços ambientais, com base em projetos como o REM Acre, destina ao menos 70% dos recursos a comunidades indígenas e extrativistas. Ainda é pouco, mas é mais do que muitos outros estados podem dizer.
Sinodo
Francisco também será lembrado pelo Sínodo Pan-Amazônico de 2019 e por nomear o primeiro cardeal amazônico da história, Dom Leonardo Steiner, hoje arcebispo de Manaus.
Silêncio episcopal
É nessa chave que se revela o silêncio incômodo de parte da Igreja Católica acreana. A Diocese de Rio Branco, que um dia foi referência nacional com Dom Moacyr Grechi e as pastorais sociais, parece ter se retraído desde a chegada de Dom Joaquín Pertíñez. Perdeu protagonismo, perdeu a escuta dos pobres e perdeu espaço para outras expressões religiosas que ocupam com ação o que se abandona por omissão.
Sopro
Enquanto isso, em Cruzeiro do Sul, o bispo salesiano Dom Flávio Giovenale vem se destacando por seu compromisso com a educação e as causas sociais. Um sopro de renovação onde a fé ainda se articula com justiça.
O testemunho
Jorge Viana, hoje presidente da Apex, lembrou nas redes sociais o encontro que teve com o Papa em 2013. Ele era então senador e vice-presidente do Senado, e foi recebido pelo pontífice na Casa Santa Marta. Ao lado de Dom Cláudio Hummes e Dom Moacyr, falou sobre Chico Mendes, os povos da floresta e o papel da fé como força de resistência. A lembrança mais marcante? O Papa de batina branca, simples, sozinho, sem entourage. Era Francisco. Um homem inteiro.
A morte e o planeta
Francisco faleceu em 21 de abril, véspera do Dia da Terra. Quase como um lembrete: este planeta, que ele tanto defendeu, precisa de mais vozes como a dele.
O peso do silêncio
A reunião convocada pelo senador Alan Rick para destravar a estruturação do consórcio de resíduos sólidos no Acre foi um sucesso político. De 22 prefeitos, 21 compareceram. Todos saíram convencidos. Só falta uma assinatura: a do prefeito de Rio Branco, que preside o consórcio e tem evitado o gesto. A pergunta é: por quê?
Sem custo, só ganho
O projeto já tem recurso garantido, estrutura técnica pronta e o aval do governo federal e estadual. E, detalhe: não custa nada aos municípios. Trata-se de um modelo que deu certo no Amapá. Falta apenas a autorização para iniciar a modelagem. O que está em jogo é saúde pública, meio ambiente e dignidade urbana.
O tempo da omissão passou
A frase do senador Alan Rick, ao final da reunião, resume a insatisfação geral: “O tempo da omissão já passou. Agora é tempo de ação.” O gesto que falta não é simbólico. É uma linha entre o atraso e a responsabilidade.
Não é capitania
Prefeitos como Jerry Correia (Assis Brasil), Maximo Costa (Porto Acre) e Rosana Gomes (Senador Guiomard) cobraram diretamente a assinatura de Tião Bocalom. Como bem lembrou Jerry, o consórcio é de 22 municípios não é justo que uma única caneta impeça o avanço de todos.
Acre em movimento
A proposta prevê o fim dos lixões ainda ativos, geração de empregos formais e melhoria urbana. A modelagem será feita pelo Ministério da Integração com base no novo marco legal do saneamento. Traduzindo: o Acre está pronto para mudar de página. Só não avança quem prefere manter o livro fechado.
*Socorro Camelo é jornalista e escreve neste espaço toda semana.
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