Por Socorro Camelo e colaboradores*
Retaliação ao povo
A que ponto chega a falta de compromisso do prefeito Bocalom com a população da capital? Por conflito político com o senador Alan Rick, elevado ao posto de seu atual inimigo preferido, o prefeito simplesmente devolveu a verba de emenda de R$ 1 milhão sem usá-la em prol da sua destinação: apoio aos produtores rurais, aliás, abandonados em sua gestão. A verba, destinada à instalação de cinco casas de farinha, foi ignorada solenemente, como se a cidade pudesse se dar ao luxo de dispensar recursos em nome de picuinhas.
Descaso e omissão
Desde 2023, o recurso estava disponível. Faltava apenas a boa vontade da prefeitura em executar o projeto. Mas Bocalom preferiu o silêncio e, agora, com o tempo corrido, justifica a devolução dizendo que o valor “não seria suficiente”. Ora, se tivesse sido usado à época certa, o dinheiro não teria perdido seu valor. É absurdo: a prefeitura preferiu devolver o recurso a reconhecer o trabalho de um adversário político.
Birrento
A emenda era para construir cinco casas de farinha para pequenos produtores. Mas como o dinheiro veio de quem ele não suporta, achou melhor deixar os produtores sem nada. A birra venceu. Se não fosse trágico para os trabalhadores rurais, poderia até ser cômico. Imaginem: Manual do Prefeito Birrento — como perder R$ 1 milhão, prejudicar o povo e ainda sair achando que tem razão.
Sem uso (e sem noção)
Bastava planejar, executar, cumprir o mínimo da função pública. E é preciso dizer com todas as letras: governa-se para o povo não para o espelho. Dinheiro, especialmente em um estado pobre como o Acre, nunca é demais. Um bom gestor sabe disso. E mais: sabe dialogar, até com quem pensa diferente.
Política é gestão
Um bom gestor não governa apenas para aliados, governa para todos. Saber administrar recursos, dialogar com diferentes esferas e aproveitar cada oportunidade em benefício da população é o mínimo que se espera de quem ocupa cargo público. A boa política não se faz com vaidade ferida nem com perseguição disfarçada de critério técnico. Um gestor maduro sabe separar as diferenças pessoais do interesse coletivo. O resto é amadorismo travestido de autoridade.
Esperança pisada no barro
No fim das contas, não foi o senador que perdeu. Quem perdeu foram os agricultores das comunidades da Baixa Verde, Barro Alto, Polo Hélio Pimenta e Geraldo Mesquita, que precisam melhorar a estrutura para a produção de farinha. Gente simples, que levanta cedo, enfrenta sol e chuva, planta, colhe, rala a macaxeira. No jogo pequeno da política, quem perde é sempre o lado grande do povo.
Impulso
As redes sociais exigem extrema ponderação de quem quer se destacar a qualquer custo. Os exemplos que vêm de pretensos “influenciadores” são quase sempre os piores possíveis: sem ética, muitas vezes criminosos, incentivando o vale-tudo na busca incessante por likes e repercussão. E, na maioria das vezes, a coisa acaba muito mal.
Revoltante
São revoltantes as postagens da estudante de Medicina Assuria Mesquita, cuspindo no prato em que come, atacando os acreanos a quem se refere como “sebosos”exaltando uma suposta “beleza” por não parecer com a gente da terra e louvando o fato de seu namorado não ser do estado.
Desculpas
Notas oficiais ou críticas não resolvem o problema. Tomara que ela realmente aprenda o que significa empatia e respeito.
Redes
Esse é apenas um exemplo do que acontece nas redes sociais e no mundo ainda pouco compreendido da internet. Há um abismo geracional se formando, com pais que desconhecem completamente a vida digital dos filhos. Um exemplo são os perfis “dix”, ocultos, compartilhados em grupos fechados, especialmente entre adolescentes e dos quais os responsáveis sequer sabem da existência, muito menos do que está sendo postado ou sentido.
Perigos
E não para por aí. Plataformas como o Discord abrigam grupos que incentivam violência, estupros virtuais e automutilação. Há poucos dias, um policial infiltrado conseguiu alertar a mãe de uma adolescente que estava sendo vítima de estupro virtual enquanto ela achava que a filha assistia vídeos inocentes no quarto. E os responsáveis pela plataforma se recusam a moderar esses grupos, em nome de uma suposta “liberdade individual”.
Adolescência
A série da Netflix Adolescência mostra esse universo sombrio das redes, com apologia à violência codificada por emojis, misoginia extrema de grupos “incels” e “redpills”, exaltação ao nazismo e comportamentos criminosos. Há um mundo perigoso por trás das telas invisível, mas muito real.
Ignorância
Mesmo assim, no caso da estudante acreana que zombou das próprias origens, a culpa não é das plataformas. É dela mesma. Sua soberba e ignorância respingam vergonha em colegas e familiares que, ao contrário dela, não têm culpa.
Indígenas
Acabou em violência o Acampamento Terra Livre, que reúne oito mil indígenas ,muitos do Acre, em Brasília. Policiais lançaram bombas de gás e utilizaram spray de pimenta contra manifestantes na noite de ontem (10), durante a marcha “A Resposta Somos Nós”. A ação foi conduzida pela Polícia Legislativa (DPOL) e pela Polícia Militar do DF (PMDF), e representa mais um grave ataque aos povos originários.
Violência
Também no Acre, uma turba descontrolada ateou fogo na motocicleta de um acusado de feminicídio. O horror do crime não justifica a barbárie da reação. A ideia do justiçamento, do linchamento, está se espalhando e é tão perigosa quanto o próprio crime. Não se pode substituir a justiça pelo ódio. A morte brutal de uma jovem, acusada de matar a própria filha recém-nascida — crime ainda não solucionado — é mais um exemplo de como a “lei do olho por olho” nos conduz direto à escuridão. Barbárie não é justiça. É o oposto dela.
Socorro Camelo* é jornalista e escreve neste espaço às segundas, quartas e sextas-feiras.
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