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ACRE EM NOTAS | COP 30, rachaduras e retrocesso

Quando o futuro perde espaço e o presente desmorona

31/03/2025 às 17h28
Por: Redação Fonte: Acreaovivo.com
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ACRE EM NOTAS | COP 30, rachaduras e retrocesso

Por Socorro Camelo e colaboradores*

Esvaziada

Não há como negar: a COP 30, Conferência do Clima da ONU marcada para novembro, em Belém, caminha para ser uma das mais esvaziadas de todas as edições. E, possivelmente, com resultados práticos ainda mais frágeis do que a já fraca conferência realizada no Cazaquistão, em 2024. O principal motivo é a cruzada antiambiental e antiprogressista dos Estados Unidos, que vêm pressionando pelo fim das políticas globais de sustentabilidade. E isso terá impactos diretos e profundos para o Acre.

Ajuda

Um dos efeitos mais imediatos será a retirada dos EUA do mercado de créditos de carbono, que deixam de ser política de Estado. Pelo contrário, Trump impulsiona uma economia baseada em combustíveis fósseis e incentiva práticas nocivas como o fracking — extração de gás de xisto altamente danosa ao meio ambiente, aos lençóis freáticos e à saúde humana. Além disso, apoia a retomada da indústria madeireira americana, inclusive na fronteira com o Canadá, e dá fôlego ao uso do carvão mineral e dos motores à combustão. Tudo na contramão da cartilha ambientalista. Trump também cortou qualquer ajuda financeira a planos de contenção das mudanças climáticas.

Carbono

O Acre mantém expectativas na COP 30 devido ao bom andamento do programa REDD+ no Estado — um mecanismo que recompensa financeiramente países em desenvolvimento que conseguem reduzir emissões de gases de efeito estufa. A sigla significa “Redução das Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal”. Um teste concreto dessa nova realidade ocorrerá em maio, com a 15ª Reunião da Força-Tarefa de Clima e Florestas dos Governadores (GCF), que reunirá cerca de 500 autoridades e pesquisadores de 12 países em Rio Branco. O encontro será um termômetro dos humores para a COP, mesmo sendo um fórum de organismos subnacionais, como estados e províncias.

Restauração florestal

Ainda assim, em meio a tantas más notícias, há alguma luz no fim do túnel. O BNDES mantém um programa robusto para financiar não apenas a conservação, mas também a restauração florestal, dentro de uma perspectiva mista de sustentabilidade e aproveitamento futuro dos créditos de carbono e, eventualmente, da madeira. Uma experiência relevante começa agora na região de Altamira, no Pará.

Leilão

A Systemica, empresa ligada ao banco BTG Pactual, venceu o primeiro leilão do Brasil para recuperar uma floresta desmatada com o objetivo de comercializar créditos de carbono. A Systemica foi a única a apresentar proposta para a concessão de reflorestamento da Unidade de Recuperação Triunfo do Xingu, em Altamira, no sudeste do Pará. O leilão foi realizado pelo Governo do Pará na última sexta-feira (28).

Concessão

O contrato prevê a concessão por 40 anos para recuperar mais de 10 mil hectares de floresta em terreno público. Essa área permitirá a captura de 3,7 milhões de toneladas de carbono. O investimento privado estimado é de R$ 258 milhões, com expectativa de comercializar 350 mil créditos de carbono e gerar receita total de R$ 869 milhões, além de criar 2 mil empregos. O terreno concedido faz parte da Área de Proteção Ambiental (APA) Triunfo do Xingu, uma das mais pressionadas pelo desmatamento ilegal na Amazônia. Um caminho que pode — e deve — ser trilhado também pelo Acre.

Ponte

Mais uma obra da Prefeitura de Rio Branco está em risco. Desta vez, a ponte sobre o igarapé da Judia, no Segundo Distrito, inaugurada há cerca de seis meses. A cabeceira apresenta rachaduras sérias e, como sempre, a Prefeitura tenta se esquivar da responsabilidade, culpando a enchente deste ano — que, na prática, nem foi tão grave assim. Construir em área alagável exige planejamento e engenharia para suportar as cheias. Ignorar isso é brincar com o dinheiro público e com a segurança da população.

Vai cair

É a mesma irresponsabilidade que ameaça o calçadão do Novo Mercado Velho e o Mercado dos Colonos, obras de administrações passadas que o prefeito Bocalom parece desejar ver destruídas. A manutenção é quase inexistente e, com a vazante acelerada do rio, o desbarrancamento tende a piorar.

População de rua

Os moradores de rua também estão no centro de uma nova polêmica. A Prefeitura pretende desativar o Centro POP, que funciona próximo à antiga sede do Tribunal de Justiça, no Centro. A proposta é transferir o atendimento para a Ladeira do Bola Preta, entre o Preventório e o complexo da Sobral. Mas os moradores da região rejeitam a ideia. Sem uma política séria para acolher e atender essa população vulnerável, essas pessoas seguem sendo empurradas de um canto a outro, sem solução, apenas alimentando um problema social cada vez mais visível nas ruas de Rio Branco.

Um amigo a menos, uma tristeza a mais

A notícia da morte de Jorge Braun nos atravessa como uma dessas manchetes que ninguém gostaria de escrever. Jorge não era apenas um jornalista competente e corajoso, era um amigo generoso, sempre pronto para o debate inteligente, para a conversa franca e para a palavra precisa. Hoje, não somos apenas nós, seus amigos, que estamos mais tristes. O jornalismo também está. Porque Jorge Braun fazia parte daquele time raro que entendia a responsabilidade de informar sem perder a humanidade. Fica o silêncio da sua ausência e a certeza de que sua voz fará falta, todos os dias.

Socorro Camelo é jornalista e escreve neste espaço segundas , quartas e sexta-feiras.

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