Por Socorro Camelo*
Há pessoas que passam pela vida como quem atravessa uma avenida movimentada: com pressa, desviando dos ruídos, cuidando para não ser atropelado pelo mundo. Jorge Braun não era dessas. Ele atravessava a vida com olhos atentos, ouvidos abertos e um coração generoso que sabia, antes de tudo, escutar.
Nos conhecemos na correria diária da Rede Amazônica , onde construímos, além de amizade, uma cumplicidade silenciosa, dessas que só nasce quando a gente confia e admira de verdade. Jorge, que sempre me chamava de “chefe”, era, na verdade, um mestre: na palavra, na lealdade, na vida.
Era cearense de nascimento, mas acreano de alma. Fez do Acre sua morada, seu chão, sua trincheira e também seu palco. Tinha o dom raro de falar para todos, de traduzir a notícia com clareza e humanidade. E, para além das telas e microfones, era o amigo presente, o professor paciente, o homem simples que carregava no bolso um sorriso e um comentário esperançoso.
Em dezembro passado, o destino — esse motociclista imprudente que às vezes invade nossa pista — tirou Jorge da rota. Um acidente, um impacto, quatro meses de agonia. Durante esse tempo, ele ficou ali, lutando silenciosamente entre o que nos prende e o que nos liberta.
Ontem, Jorge partiu. Deixou de lutar contra os freios da matéria e acelerou para um lugar onde não há mais dor, onde a contramão não existe. E nós, que ficamos, somos obrigados a aceitar que ele já não caminha entre nós, mas segue vivendo nas histórias que contou, nas aulas que ministrou, nos conselhos que nos deu e no afeto que espalhou por onde passou.
O jornalismo do Acre está mais silencioso. Os amigos estão mais órfãos. E eu, que fui chamada de “chefe” por ele tantas vezes, sinto que perdi um dos meus melhores soldados — desses que não pedem licença para defender, acolher, amar.
Jorge Braun não era apenas um jornalista. Era um costurador de laços, um construtor de afetos, um contador de histórias que agora será eternamente parte da nossa.
Que ele descanse onde já não há trânsito pesado, onde as notícias são boas e os dias são leves. Porque quem foi feito de palavra e amizade, nunca morre de verdade.
*jornalista e amiga do Jorge Braun.
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