Por Socorro Camelo *
Se conheceram no Carnaval da vida.
No início, não houve taquicardia, apenas desinteresse.
Ela não via graça nele.
Mas as mênades, também conhecidas como Bacantes, são sedutoras demais.
E eles estavam predestinados — ainda que apenas para, ao fim, confirmar a antipatia inicial e o quão desastrosos podem ser encontros assim.
Perderam-se (e encontraram-se) entre sextas e quartas de cinzas.
Sambaram enredos vencedores e perdedores.
E parecia amor…
O tempo passou, e tudo mudou.
Mas ela ainda acreditava.
Tiveram “Apoteoses”, mas, a cada “Dispersão”, o afastamento se tornava inevitável.
Depois de um verão glorioso, muita chuva desabou sobre eles.
Com direito a raios e trovoadas. Remanejando regras, direitos e deveres.
Não muitos carnavais depois, face revelada, ela ainda buscava nele resquícios do que viu antes.
O amor é tolo, às vezes.
Doença fúngica, típica de ambientes fechados.
Coça, até ferir.
Porque já não havia mais por que lutar.
Era tarde.
Acachapado e sem nenhum molejo, ele a ironizava e fazia mil exigências para continuar algo que deveria ser espontâneo.
Ela cedeu. E, num dia qualquer, viu de fato no que estava se tornando.
Nenhum som de tamborim valia a tristeza que ela sentia a cada interpretação errada, a cada fúria dionisíaca que ele destilava.
De fato, juntos, perderam o rebolado. Dionísio morre.
Luto.
Trevas.
Nos próximos carnavais, ela já sabe: vão brincar separados.
OBS: Texto escrito em 2019.
*Socorro Camelo é jornalista e escreve neste espaço quando dá na telha.
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