Por Socorro Camelo e colaboradores
Olho no STJ
O presidente Lula deve anunciar nesta semana os dois novos nomes que irão compor o Superior Tribunal de Justiça (STJ). As listas tríplices – uma com integrantes dos Tribunais Regionais Federais e outra com membros do Ministério Público – foram definidas em outubro do ano passado. A expectativa agora gira em torno de quem preencherá essas vagas estratégicas.
Nabiha
A ex-secretária municipal de Educação, Nabiha Bestene, decidiu se posicionar e contra-atacar revelando os processos que levaram à demissão e à posição de pessoa non-grata dentro da prefeitura. Embora tenha contado apenas parte da trama – as histórias que circulam na capital têm componentes mais bombásticos – Nabiha mostra mágoa, decepção e o ambiente tóxico que viveu na prefeitura.
Rompimento
O rompimento entre a ex-secretária e o prefeito Tião Bocalom mostra uma rede de intrigas e luta de poder na administração municipal. A maior prova disso é que o secretário interino, pastor Paulo Machado, mesmo sabendo que o sobrinho de Nabiha e vice-prefeito Alysson Bestene iria assumir a pasta, tomou a iniciativa de demitir praticamente toda a equipe da secretaria e nomear pessoas ligadas diretamente a ele.
Quem manda
Nabiha saiu atirando, afirmando que queriam que ela fosse uma rainha da Inglaterra e acusando o atual secretário adjunto Paulo Machado e o homem de confiança de Bocalom e seu chefe da Casa Civil, Valtim José, de tentar assumir o controle de tudo. Essa pressão teria chegado ao ponto de nomear a esposa de Valtim como adjunta da Educação, para entrar em conflito permanente com Nabiha.
Será?
Os fatos mostram que o caminho não deve ser diferente para o secretário Alysson Bestene, que permanece ausente de todas as tratativas e definições dentro da prefeitura. Segundo a própria Nabiha, ele corre o risco de se tornar um secretário decorativo, com a vantagem, para o grupo de poder, de afastar sua posição de vice-prefeito do núcleo de decisão municipal. Colabora para essa percepção o fato de Alysson não ter nenhuma intimidade com a pasta que vai gerir. Como odontólogo, terá dificuldades de debater temas pedagógicos.
Um pouco tarde
O grande problema dessa explosão de insatisfação de Nabiha é que agora é um pouco ou muito tarde. Ela deveria ter tido a coragem de expor essas situações quando ainda estava no cargo, ou ter tomado medidas mais radicais. Se a situação estava tão opressiva, se ela se sentia tão incomodada, por que não entregou a secretaria e revelou tudo? Apego ao poder? Às vantagens de ser secretária, apesar de todos os problemas? Agora que perdeu o cargo, mesmo diante da relevância de suas reclamações, fica a impressão de que reclama e expõe tramoias, porque está fora.
Começo quente
Esse problema com Nabiha Bestene será um dos temas que devem incendiar a primeira semana da nova legislatura da Câmara Municipal de Rio Branco. Embora possa parecer ter uma folgada maioria em sua base, o prefeito Bocalom não deve ter vida fácil. Há uma série de dossiês e denúncias abastecendo vereadores que já declararam oposição à prefeitura, como André Kamai, do PT e Eber Machado, do MDB. O prefeito conta com uma ação firme do presidente da Câmara, seu fiel escudeiro Joabe Lira, para contornar as principais denúncias.
Comportamento
Uma das grandes dúvidas é como será o posicionamento do vereador Samir Bestene, que se considera desprestigiado, assim como toda sua família. Ele foi um dos parlamentares que procurou, na última semana, apurar as mudanças na educação municipal. Manterá a fidelidade que seu partido, o Progressistas, prometeu ao prefeito, ou tentará um voo solo em suas posições?
Esvaziada?
A postura negacionista das mudanças climáticas do presidente Trump põe em xeque os resultados práticos esperados para a COP 30, a se realizar em novembro, em Belém. Se já em Baku, no ano passado, foi difícil negociar um acordo de financiamento para ações de mitigação dos efeitos do aquecimento global, a posição americana, se o país ao menos enviar delegação, deve ser de oposição completa aos objetivos da reunião. E o Brasil, como anfitrião que aposta em bons resultados, pode ficar com resultados muito modestos, quando não, retrocessos no encontro.
Café
O Acre tem tudo para se tornar um ator relativamente importante na cadeia de produção do café, especialmente o do tipo “robusta”, que se adapta melhor à região. A subida estratosférica de preços da commodity pode tornar o café interessante economicamente para o estado. O tipo robusta é usado, principalmente, em cafés instantâneos, no blend dos chamados extrafortes e tem como maior país produtor o Vietnã. No Brasil, o Espírito Santo é o modelo de produção. É uma alternativa menos invasiva que a soja e com um ótimo potencial de mercado.
Filme
E no Acre tem cinema sim senhor! Está acertada a produção de um longa-metragem destinado a sucesso de público e muita polêmica, no estado, tendo como cenário Cruzeiro do Sul.
Geni
Trata-se do filme Geni e o Zeppelin, baseado na música de Chico Buarque e que terá como diretora a premiada Anna Muylaert, que fez “Que horas ela volta” e “Alvorada”, sobre o governo de Dilma Roussef. Deve abrir espaço para artistas acreanos, técnicos e figurantes acreanos.
Cenário
Cruzeiro do Sul deve oferecer um belo cenário para a história de Chico Buarque, uma severa crítica social que aborda temas como a exploração, a marginalização, a hipocrisia e o preconceito. Na música, o capitão de um zeppelin armado de canhões, sobrevoa a cidade e ameaça destruir tudo, a não ser que a travesti Geni, desprezada por todos e motivo de chacota pública e humilhações, aceite passar uma noite com ele. Ela salva a cidade, é tida como heroína, mas, logo depois, recomeça o preconceito.
Inspiração
A música é uma adaptação, com muito talento, de uma melodia da Ópera dos Três Vinténs, do dramaturgo e diretor alemão Berthold Brecht, musicada originalmente por Kurt Weill. Foi escrita para a Ópera do Malandro, espetáculo de Chico que transferiu o tema da obra de Brecht para o Brasil da década de 70. O filme tem tudo para ser polêmico e pode ajudar a ampliar o debate cultural no estado e no país, no momento em que o cinema nacional tem um renascimento com “Ainda Estou Aqui” e outros sucessos de público e crítica.
Música e Direito
Quando a pauta do dia parece ser só recursos e jurisprudência, eis que surge uma nota musical diretamente dos tribunais superiores. O desembargador convocado do STJ, Otávio Toledo, resolveu trocar o martelo pelo microfone e lançou a canção “Um Triz”, em parceria com ninguém menos que Zeca Baleiro e a intérprete Tatiana Parra. O lançamento, que coincidiu com o embalo do Grammy 2025 – realizado neste domingo, 3 –, mostra que, no Brasil, até a MPB sabe transitar entre acórdãos e acordes. Quem disse que a toga não combina com violão?
Spotify
Otávio Toledo prova que não basta ter uma carreira jurídica sólida; é preciso também ter uma boa harmonia. A canção, já disponível no Spotify, é mais um capítulo da sua ligação com a música – e que ligação! A gravação contou com um time de peso: Swamijr, Marcelo Jeneci, Serginho Carvalho e Jota Erre, sob a batuta do produtor Alexandre Fontanetti, no Space Blues Studios. Para quem achava que a única “nota” relevante no Direito era a de rodapé, aí está um bom motivo para repensar.
Socorro Camelo é jornalista e escreve neste espaço de segunda a sábado. Contato : [email protected]
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