Por Socorro Camelo
Hoje, minhas flores não tocarão o mar. Minha oferenda será invisível, mas não menos sentida.
Rainha do Mar, dona das águas salgadas, senhora dos oceanos, permita que eu saiba navegar. Não apenas pelas águas claras dos dias fáceis, mas também pelas correntes imprevisíveis da vida.
Que eu tenha a coragem dos barcos que enfrentam tempestades sem perder o rumo e a paciência das marés, que sabem que tudo tem sua hora. E que eu tenha a fluidez das sereias – ou, pelo menos, a calma de quem não se afoga tentando nadar contra a corrente.
Que eu seja boa mãe, boa amiga, boa irmã, boa companheira. Que o amor nunca me falte – nem a mim, nem aos que caminham comigo.
Que meu processo evolutivo aconteça através da alegria e que, todas as manhãs, um sonho acorde meus olhos para que eu possa transformá-lo em realidade. Que eu distribua afeto com generosidade, mas sem me perder no caminho.
E, se não puder agradar, que ao menos não deixe marcas.
Que as cicatrizes que carrego, visíveis ou não, sejam lembretes da minha força, e não barreiras.
Que quem me encontrar saiba: meu coração é porto seguro, mas também sabe ser barco livre.
Hoje, Rainha, eu queria estar no mar. Sentir a água nos pés, ouvir o som das ondas.
Mas há um mar que mora em mim – um que não se vê, mas que nunca seca.
E hoje também é o dia dela. Da minha mãe. Ela, que foi meu prumo, norte, bússola, minha maré.
Que me ensinou que algumas saudades não desaparecem – a gente aprende a navegar com elas.
Minha mãe sabia que a vida é como o mar: tem dias de calmaria, outros de ressaca, e o segredo está em não resistir tanto ao movimento das ondas.
Hoje, toda flor que não posso jogar no mar, jogo no vento – para Iemanjá e para Dona Maria.
Rezo para que eu nunca perca a capacidade de ouvir o som das ondas, mesmo quando tudo estiver em silêncio.
Obrigada Rainha, por lavar meus medos, iluminar sempre meu caminho com a luz das estrelas que brilham sobre tuas águas,
E por permitir que, dentro desse meu coração tão teu, seja possível ouvir o mar. O tempo todo.
Amém. Odoyá.
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