Por Aline Pereira
Nesta semana, revisito os primeiros anos do meu relacionamento com Victor, uma época marcada pelas emoções da juventude, descobertas e desafios. Entre shows de rock, estudos intensos e momentos de simplicidade, construímos um vínculo profundo que moldou nossas vidas. Com leveza e intensidade, equilibramos nossas ambições individuais com a força do nosso amor, em uma trajetória de aprendizado, conquistas e memórias inesquecíveis.
Victor e eu seguíamos juntos, vivendo intensamente os primeiros anos de namoro e as emoções que a juventude trazia. Entre ciúmes, inseguranças e as alegrias das descobertas da vida adulta, nosso relacionamento florescia. Sempre contávamos com amigos conselheiros, como nossas mães, e pessoas especiais que, futuramente, se tornariam madrinhas e padrinhos de casamento. Frequentemente saíamos com amigos para shows de rock, participávamos de festivais de sinuca organizados pela nossa turma, além de ensaios em estúdios das bandas amigas e festas na minha casa à noite. Essas aventuras eram permitidas pelos meus pais, que confiavam em nós. Meu irmão, primos e amigas próximas também estavam sempre por perto. Vivíamos momentos repletos de diversão, risadas, um pouco de vinho e a leveza dos dias despreocupados. Nos finais de semana, costumávamos ouvir música juntos durante as tardes.
Nessa época, não precisávamos de muito para sermos felizes. Tínhamos pouco dinheiro, mas sempre dávamos um jeito: pegávamos transporte público, fazíamos um lanche na padaria e ainda reservávamos algo para comemorar uma data especial.
Victor trabalhava durante o dia e, todas as noites, fazia questão de passar na minha casa logo após o trabalho. Ele chegava por volta das sete e ficava até as dez, sentado no sofá da sala. Nessas horas, conversávamos sobre o dia, e eu gostava de cuidar dele: ele jantava na minha casa e, depois desse tempo simples e cheio de significado, voltava para a casa dele. Enquanto isso, eu estava concluindo o ensino médio e me preparando para o vestibular, dividindo meu tempo entre estudos intensos e os momentos que passávamos juntos. Meu pai, preocupado, cobrava dedicação e me lembrava constantemente de que os estudos eram minha prioridade, o que me incentivava a manter o foco.
Por volta de 2006 - 2007, Victor comprou sua primeira moto, uma Yamaha DT 180. A moto, com seu cheiro característico de óleo dois tempos e barulho alto, era motivo de grande orgulho. Para ele, representava uma conquista importante, um símbolo de independência e esforço. Mas a moto também exigia reparos frequentes na oficina mecanizada, o que, às vezes, o deixava frustrado. Ainda assim, ele cuidava dela com dedicação. A moto também protagonizou algumas aventuras, como as visitas inesperadas à minha casa durante a madrugada, após sair com os amigos. Mesmo que meu pai não aprovasse esses “programas”, esses gestos românticos e rebeldes faziam parte do charme da nossa juventude.
Com o tempo, as cobranças do meu pai aumentaram. Ele achava que eu estava muito envolvida no namoro e não queria que eu deixasse os estudos de lado. Suas palavras despertaram meu senso de responsabilidade, e decidi me dedicar com afinco ao vestibular. Meu objetivo era cursar Enfermagem na Universidade de Brasília e, com muito esforço, consegui. Essa conquista foi uma grande alegria para mim e para minha família, um orgulho que fez todo o sacrifício valer a pena.
Enquanto eu construía meus planos acadêmicos, Victor buscava um caminho profissional. Naquele período, ele trabalhava em um estúdio de tatuagem, explorando seu talento artístico. Ele chegou a tentar ingressar no curso de Artes Plásticas na Universidade de Brasília, mas acabou não prosseguindo. Ainda assim, sua paixão pelo desenho permanecia viva, e ele encontrou nos estúdios de tatuagem um espaço para se expressar e aprender, além de adquirir noções sobre empresa e relacionamento com clientes.
Pouco tempo depois, Victor decidiu fazer um curso de design gráfico, o que representou uma mudança significativa em sua trajetória. Essa formação abriu portas para novos desafios, e ele trocou o ambiente dos estúdios de tatuagem por uma oportunidade em uma empresa de arte gráfica. Mais adiante, tomou a decisão de cursar Publicidade e Propaganda, mudando o rumo de sua vida profissional e se permitindo explorar novas possibilidades. Ele sempre teve essa inquietação criativa, uma vontade de crescer e se reinventar, que o acompanharia por toda a vida.
Aline Pereira é escritora em construção, mãe, e uma apaixonada por transformar o amor e o luto em poesia. Atualmente, compartilha as memórias de seu relacionamento de 20 anos e seu processo de reencontro consigo mesma.
Mín. 21° Máx. 28°