Em setembro deste ano, a população acreana foi pega de surpresa com medidas emergenciais e toda suspensão da estrutura educacional e a reavaliação do modo de como continuar com a formação dos alunos, foram definidas. As providências foram tomadas pelo governo do Acre, por meio da Secretaria de Estado de Educação e Cultura (SEE) e do Comitê de Crise, devido à qualidade do ar e aos índices de concentração de partículas prejudiciais à saúde.
A qualidade do ar, monitorada diariamente, segundo a classificação da IQ Air, plataforma que monitora a qualidade do ar, variou entre “muito insalubre” e “perigoso”, com a concentração de partículas no ar da capital acreana variando entre 74 e 110 µg/m³, já o Instituto de Meteorologia (Inmet) divulgou outro dado importante, segundo o instituto a umidade do ar de Rio Branco, estava baixo, variando entre 30 e 20%.
Figura 1:BR-364 encoberta por fumaça das queimadas - Foto: Claudio Angelim/Ufac
As atividades suspensas por cerca de uma semana na Regional Baixo Acre I, que inclui os municípios de Rio Branco, Porto Acre, Senador Guiomard e Bujari, afetou 150 mil alunos em toda a rede estadual de ensino. Gestores e professores, tiveram que realizar suas atividades, bem como ministrar as aulas de modo remoto (on-line). Nas demais regionais, os núcleos de representação da SEE definiram os encaminhamentos cabíveis, conforme a qualidade do ar comportava-se no município.
IMPACTOS NA EDUCAÇÃO
O secretário de Estado de Educação e Cultura, Aberson Carvalho, afirma que as aulas foram suspensas conforme a qualidade do ar da região e da gravidade das queimadas. Para ele, esse foi um momento para garantir a saúde da população. “O momento é importante para cuidar das vidas e cuidar das vidas é uma prioridade do governo do Estado. Então, as atividades educacionais foram suspensas de forma preventiva, para que as autoridades possam estar tranquilas.”
“Vale ressaltar que as aulas serão repostas nos feriados e nos sábados letivos, garantindo que o calendário escolar possa se estender até o final do ano e assim concluirmos toda essa etapa de ensino. Até o momento não temos previsão de suspender novamente as aulas, o tempo melhorou bastante para ajudar no andamento do ensino,” destacou o secretário.
Durante esses cinco dias, o governo do Estado realizou o monitoramento contínuo dos parâmetros de qualidade do ar, e orientou o sistema educacional para que tomassem medidas cabíveis a fim de não prejudicar o calendário acadêmico pedagógico.
Figura 2: Infográfico de Queimadas no Acre em setembro
Figura 3 : Infográfico de Queimadas no Acre em outubro
A mãe e moradora do bairro Calafate, Geissiana Ferreira, acredita que a suspensão das aulas foi necessária para que as crianças e idosos, os quais são os públicos mais afetados, não sofressem ainda mais devido à qualidade do ar que se encontra de forma crítica. Embora afirme que o dia escolhido para repor as aulas, possa prejudicar algumas famílias. Gessiana Ferreira, considera que a suspensão das aulas não tenha afetado o aprendizado dos alunos, “Foram poucos dias, quase uma semana, então não é o suficiente para ocasionar um prejuízo ao ensino, então posteriormente será bem recuperado,” destacou.
“Essas medidas foram necessárias, mas tudo isso tem um lado negativo, porque as aulas serão estendidas, e serão ministradas aos sábados que é um dia que os pais na maioria das vezes não conseguem mandar os filhos, sendo ainda esses contraturnos que deixam as crianças mais cansadas,” finaliza a morada do bairro Calafate.
A mesma preocupação com o impacto da suspensão é compartilhada por educadores. Caso da professora Denise Arruda, que leciona na Escola Rural de Ensino Médio Dr. Santiago Dantas, situada na Vila Manoel Marques, na Estrada Transacreana (AC-90), ela também enxerga a medida com um misto de aprovação e alerta para seus desdobramentos. "Achei a decisão muito inteligente, pois garantiu a proteção da saúde dos alunos, professores e da comunidade como um todo", afirmou.
Figura 4: As aulas suspensas durante o mês de setembro - Foto: Claudio Angelim/Ufac
No entanto, Denise também destaca os desafios que surgem com a adaptação do calendário escolar. "O lado negativo é o prejuízo na aprendizagem. Esses dias geram lacunas no conhecimento, e o sábado, que seria o dia de reposição, não tem a mesma adesão de um dia útil. Além disso, nós, professores, sentimos a pressão de adaptar estratégias para recuperar o conteúdo perdido", explicou a docente.
Ela finaliza destacando que, embora a saúde seja prioridade, o impacto da medida no ensino precisa ser cuidadosamente administrado: "O esforço exigido é grande, e o cansaço acaba se refletindo tanto para nós quanto para os alunos." Com diferentes perspectivas, a comunidade escolar avalia os benefícios e os desafios de um calendário adaptado, buscando encontrar equilíbrio entre a proteção da saúde e a continuidade do aprendizado.
IMPACTOS NA SAÚDE
A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que a média de concentração diária de material particulado na atmosfera não ultrapasse 15 μg/m³, acima deste índice é considerado “perigoso”, contribuindo para problemas de saúde respiratórios. O excesso de fuligem e a fumaça no ar, causou mal-estar a muitas pessoas, principalmente aos idosos e crianças. Entre os sintomas que a fumaça no ar causa, estão rinites, asma, bronquite aguda e alergia respiratória para as pessoas que ficam por longo tempo expostas ao ambiente poluído.
Durante entrevista com o clínico-geral, Edson da Silva, explica que quando estamos em um ambiente completamente esfumado, nosso corpo está exposto a diversos elementos tóxicos derivados da queima de produtos. Isso afeta não apenas a pele, mas também os olhos, além de todo o organismo que absorve esses elementos através da respiração. “A inalação da fumaça pode agravar os sintomas de doenças respiratórias, causar irritação nos olhos e na pele, além de infecções pulmonares. Em casos mais graves, pode levar ao agravamento de doenças pré-existentes,” destaca o médico.
Silva ainda orienta sobre as medidas para amenizar os efeitos da fumaça e quais os sintomas indicam a necessidade de atendimento médico imediato. “Em casa, é importante manter o ambiente o mais arejado possível, abrindo janelas e portas. O uso de ventiladores pode ajudar a dissipar a fumaça dentro do ambiente. No entanto, o objetivo é evitar ao máximo a entrada de fumaça nos espaços internos, protegendo, assim, os pulmões de todos que estão na residência. Em relação aos sintomas, alguns sinais indicam que a pessoa deve procurar atendimento médico imediatamente. Entre eles estão a falta de ar, sensação de sufocamento no peito, tosse irritativa, indisposição respiratória, além de irritações na pele e nos olhos. É importante buscar ajuda médica ao notar esses sintomas, pois eles podem se agravar rapidamente,” finaliza.
A prefeitura de Rio Branco (PMRB) tomou medidas para evitar consequências da fumaça na saúde dos servidores públicos e das alunas e alunos, por exemplo, extensão do horário de atendimento da Unidade de Saúde da Família (USF) do São Francisco e a Urap Cláudia Vitorino, além da suspensão das aulas, impactando mais de 22 mil estudantes e a liberação de servidores públicos acima de 60 anos de comparecerem ao trabalho presencial.
AÇÕES AO MEIO AMBIENTE
A Secretaria de Meio Ambiente (Sema) maximizou os esforços para atuar nas ações de governo que permitiram melhor gestão para com os possíveis riscos de desastres naturais no Acre, com isso, foi possível subsidiar as ações de respostas aos incêndios ambientais com mais precisão. A atuação da Sema de forma integrada com os órgãos ligados aos sistemas de Meio Ambiente e Segurança Pública, foi um fator determinante para coordenar de forma eficaz as ações de fiscalização, prevenção e mitigação dos impactos das queimadas.
A Sema, juntamente com o Instituto de Meio Ambiente do Acre (Imac), Secretaria de Estado da Casa Civil (SECC) e Secretaria de Estado de Comunicação (Secom) receberam um reforço importante do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional, por meio da Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil, dois recursos totalizando mais de R$ 10,9 milhões, para potencializar os trabalhos e reforçar o corpo de pessoal, compra de equipamentos e contratação de carros-pipas.
Na época até então secretária de Meio Ambiente do Estado, Julie Messias, afirmou que: “Entre as ações que se destacaram foi a deflagração da Operação Sine Ignes (Sem Foco) que visa o combate de ilícitos ambientais, sobretudo, relacionado ao desmatamento ilegal e queimadas em todo o Acre. Na primeira fase, a operação se concentrou nos municípios com maior incidência de focos de queimadas, Feijó, Rio Branco, Sena Madureira, Manoel Urbano e Tarauacá, e aplicou mais de R$ 1,5 milhões em multas.”
Figura 5: secretária Julie Messias (2022-2024)
“Lembrando que a secretaria de Meio Ambiente realiza junto ao Imac, de forma contínua, ações de educação ambiental de sensibilização quanto aos cuidados com o meio ambiente e o uso consciente da água que pode impactar ainda mais esses eventos extremos no Acre. Ou seja, o Imac, o órgão fiscalizador do Estado, está atuando de forma integrada com todas as esferas de governo, estadual, municipal e federal, na prevenção e combate aos crimes ambientais,” finaliza Messias.
As ações de fiscalização e combate aos crimes ambientais, no estado do Acre, em 2024, já resultaram na aplicação de mais de R$ 17 milhões em multas, com foco no desmatamento, queimadas e exploração ilegal de madeira. Além disso, entre Sema, Imac, Polícia Militar do Acre (PMAC), CBMAC, Centro Integrado de Operações Aéreas (Ciopaer), ICMBio e Ibama estão empregados, no efetivo em atuação, 315 agentes em todo o estado. São realizados ainda mutirões de regularização ambiental que oferecem suporte, orientação e apoio ao pequeno produtor para que ele fique regularizado e evite, assim, práticas ilícitas.
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