Por Luciano José Trindade
Nos últimos tempos o Brasil enfrentou eventos climáticos catastróficos, a exemplo das devastadoras enchentes no Sul e Sudeste, das secas intensas na região Norte e dos incêndios que estão destruindo importantes biomas da Amazônia, do Cerrado e do pantanal.
Então era de se esperar que os problemas ambientais e climáticos fossem tema central das campanhas políticas e do interesse dos eleitores, influenciando decisivamente o voto e o resultado das eleições. Entretanto, alagamentos, inundações, deslizamentos, ondas de calor, secas e incêndios foram praticamente desconsiderados tanto pelos candidatos quanto pelos eleitores.
Apesar da crise ambiental que atinge a Amazônia, com constantes recordes de pior qualidade no ar e baixo nível dos rios, o eleitor demonstrou que continua fazendo pouco caso do aquecimento global, das mudanças climáticas e da preservação do meio ambiente.
Na realidade, a eleição municipal do último domingo demonstra como o próprio eleitor brasileiro sabota sua maior riqueza e constrói as condições necessárias para que seu futuro seja cada vez mais difícil e problemático.
Mesmo respirando fuligem e com os olhos ardendo pela fumaça de milhares de incêndios criminosos, o eleitor não demonstrou qualquer interesse em eleger candidatos com um mínimo responsabilidade com a preservação ambiental. Ao contrário, em muitos casos o eleitor votou em quem ostensivamente destrói a natureza.
Em Brasil Novo, no Pará, o prefeito Weder Carneiro, conhecido como “Pirica”, foi reeleito apesar de já recebido multas ambientais no valor de R$ 5,5 milhões por destruir mais de 739 hectares de floresta amazônica nativa dentro da Terra Indígena Cachoeira Seca.
José Antônio Dubiella também foi reeleito prefeito de Feliz Natal, em Mato Grosso, mesmo já tendo recebido multas no valor de R$ 3,3 milhões por desmatamento ilegal.
Outro reeleito é Gelson Dill, atual prefeito de Novo Progresso, no Pará, que obteve 81% dos votos, apesar de suas multas ambientais somarem o valor de aproximadamente R$ 4 milhões e da acusação de destruir cerca de 200 hectares do Parque Nacional do Jamanxim, no sudoeste do Pará.
Esses são apenas alguns dos inúmeros casos que os eleitores elegeram candidatos que cometem crimes ambientais e defendem a devastação da natureza para ganhos econômicos privados.
Essa incongruência do eleitor se soma a uma série de incoerências e esquizofrenias da seara política brasileira, onde o NOVO se apresenta com ideias velhas, onde aqueles que se diz PROGRESSISTAS se sustentam no poder com práticas fisiologistas retrógadas, onde os que afirmam ser DOS TRABALHADORES não se conectam com a população, onde os que se denominam UNIÃO só polarizam e discriminam, onde quem se intitula de LIBERAL na verdade só quer privatizar os lucros e socializar os custos.
Não por acaso, com raras exceções, nas eleições cada vez mais as boas ideias são derrotadas por campanhas milionárias e as boas propostas são massacradas pelo fisiologismo.
Diante disso, tudo indica que os candidatos e os eleitores só darão a devida importância às mudanças climáticas e à proteção ambiental quando as catástrofes naturais ficarem ainda mais fortes e intensas.
Por enquanto o que se tem é indiferença dos candidatos e eleitores à pauta ambiental.
Luciano José Trindade, advogado.
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