TIME TO RACE | De quem é o esse?
Por Marcelo Moreira
Foi um longo período de silêncio nos teclados. Parei realmente de escrever, e até a resenha na padaria aqui perto de casa, que sempre foi minha inspiração para esta coluna, parei de ir. É verdade que a padoca fechou, mas está em obras... e a resenha vai retornar, assim como minha escrita.
De volta à ativa, com muita saúde, iniciamos mais uma temporada de motovelocidade. Sou grato em poder trabalhar aos 61 anos, e acompanhar o Moto1000GP/2024, em plena forma. Encontrar os amigos e vivenciar a insana rotina de um fim de semana de Grande Prêmio, revigora a alma. O desafio de se superar, aprender e aprimorar ainda mais o trabalho, é o que me move, além da grana, é claro.
Notícia triste foi a ausência, nas duas primeiras etapas, do piloto Jirios Abboud, não por problema de saúde, quem o conhece sabe que ele é de ferro, mas, por conta dos seus 64 anos, recebeu uma carga de exames que não conseguiu cumprir. A organização deveria preparar uma grande homenagem ao coroa, no mínimo. Jirios é antes de mais nada, um grande exemplo para o nosso esporte.
Arrumando minha mala para viajar, a caminho de São Paulo, recebo um comunicado oficial da organização, em cima da hora, com o pessoal de apoio montando as estruturas no autódromo, o cancelamento da terceira etapa, em Interlagos, por conta de um pedido da Polícia Civil. Logo depois, a polícia desmentiu que tinha solicitado a interdição da pista. E aí, a administração do autódromo, assumiu a responsabilidade pelo cancelamento. Tem caroço nesse angu, já dizia minha vó. Tudo por conta do lamentável falecimento do piloto argentino, Lorenzo Somaschini, de apenas 9 anos de idade. Pelo noticiário, o acidente foi considerado uma fatalidade, sem culpar diretamente a pista, mesmo sendo a nona morte deste evento, neste circuito, e, sem culpar a organização de um campeonato que não tem chancela da CBM, Confederação Brasileira de Motociclismo, e tampouco da Federação Internacional de Motociclismo. Pelo noticiário argentino era a estreia do piloto no exterior.
Os dois campeonatos de motovelocidade nacionais permitem pilotos a partir dos 9 anos de idade, participarem de corridas em autódromos, com velocidades, no caso das categorias mirins, acima de 120 km/h. Portanto, deveríamos, além de aprender com os erros, aprender também com as fatalidades, quase impossíveis de acontecer, e permitir que uma criança de 4 ou 5 anos possa ingressar no motovelocidade, mas, de mini-moto e correndo em Kartódromo. O moleque vai cair e aprender, vai subir de categoria, mas só vai pilotar em autódromo, quando completar 16 anos de adolescência feroz.
Sendo assim, diminuem as chances de a gente abrir o noticiário geral, com notícia negativa de motovelocistas, porque, o que mais escuto é que no dia a dia do esporte, eles não estão nem aí, mas com a desgraça o noticiário é cruel. O esporte é de risco, mas não deveríamos fazer vista grossa a acidentes fatais, principalmente em Interlagos, que virou uma pista macabra, e apesar disso, disputada pelos dois campeonatos. Entendo que a praça é a mais importante do país, lá se vende mais motos, pneus e acessórios, mas então, como pode o centro financeiro desse país não ter grana (ou vontade de investir), para construir um motódromo, e parar de correr em pista improvisada, cheia de airfence, os colchões de ar. Que pista é essa, onde os pilotos avisam aos novatos, "não acelera ali e nem ali que é muito arriscado". Não me canso de lembrar que o "S" é do Senna, e não do Rossi, ou do Marquez.
Mas, no fim das contas, fica só uma esperança por mudanças, sempre visando o melhor para o esporte.
Vida que segue, os motovelocistas vão para a terceira etapa do Campeonato brasileiro de motovelocidade CBM, agora em Goiânia, dias 14 e 15 de julho.
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