Por Socorro Camelo*
A menina, que até a hora do parto se chamava Beatriz, decidiu vir ao mundo quando bem entendeu. Numa mãe que já tinha aceitado que não teria mais filhos, ela ignorou estatísticas de idade e fertilidade com a confiança de quem não liga para números. E nasceu antes do previsto, porque achou que era a hora certa.
Você veio ao mundo com a aura de "quem manda aqui sou eu", disse um amigo certa vez. Ou “Quis nascer e nasceu!"
Essa determinação precoce custou à mãe e à avó aflita, uma promessa à Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Temendo perder aquele bebê birrento, mas já tão amado na hora do parto, a promessa foi feita. Mas o bebê nasceu. Sem nenhuma intercorrência na gestação ou risco de prematuridade (só a teimosia mesmo de querer nascer antes da hora) .
Mas, como dizem, a pressa é inimiga da perfeição. Com a promessa, Beatriz virou Socorro. Levar o nome da Santa salvadora foi o preço por tanta impaciência (quem manda querer sair antes do tempo?).Fazer o quê? Não se pode ter tudo.
Sorte que esqueceram o “Perpétuo”!
E já que recebi essa herança, quero abrir a roda para informar que semana passada, os devotos católicos comemoraram o dia da Santa. Aliás, Nossa Senhora do Perpétuo Socorro é vista como um símbolo de esperança e um refúgio em tempos de dificuldades, E a xará aqui dela, que não é besta nem nada, rezou muito, pedindo proteção e saúde.
E mesmo gostando da imagem protetora e maternal da Santa, ainda preferia que meu nome fosse Beatriz porque era o nome da minha tia que era tão ligada a minha mãe, e... bem desculpa aí gente, mas Socorro é de lascar (alô, Freud!).
Dizem que não há angústia que não se cure com doces e umas sessões de terapia. Alminha lavada e levada, sigamos com um passinho a frente por favor, pois aprendi que quando a gente vai contra a maré acaba virando um baita croquete de areia.
Já experimentou tomar onda de cabeça? Mas se a gente pega essa mesma onda e passa por baixo, com calma, dá tudo certo.
Seja lá o nome que tivesse tido, essa menininha birrenta teve a sorte de ter uma mãe amorosa e corajosa, que me encheu de todos os carinhos e cuidados do mundo. Diante disso quem é que liga para nome mesmo? E depois eu sempre acho que nome é um perigo. Uma rosa teria o mesmo cheiro com outro nome não é? É isso não é invenção minha não viu, gente!
É Shakespeare tá!
No mais, gracias, minha mãe.
Por afastar meus medos, estimular minhas leituras e minhas estórias ( HD sempre criativo, rs), e por me ensinar que onda a gente não vence, só atravessa.
E me fazer entender, sobretudo, que dentro do meu coração tão teu, é sim possível ouvir o mar.
O tempo todo.
Assim seja então, Beatriz, digo, Socorro!
*Socorro Camelo é jornalista e escreve o Tagarelices sempre que dá na telha.
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