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ACRE EM NOTAS | Ailton Krenak: Posse histórica na ABL

Em 127 anos de existência da instituição literária é a primeira vez que um indígena ocupa a cadeira

06/04/2024 às 11h53 Atualizada em 08/04/2024 às 15h00
Por: Redação Fonte: Acreaovivo.com
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ACRE EM NOTAS | Ailton Krenak: Posse histórica na ABL

Ensino superior

Imagine uma festa onde se celebra a história e o progresso, e justamente esquecem de mencionar o protagonista da história. Pois foi isso o que aconteceu na solenidade de ontem na Aleac. Esqueceram de um nome de um dos acreanos que mais trabalhou para que a Ufac fosse uma realidade: o saudoso desembargador Lourival Marques. Um homem que teve a  vida dedicada à causa da Justiça. Foi o primeiro procurador do Ministério Público do Estado, primeiro acreano a ser juiz de Direito, desembargador e presidente do TJAC e junto com colegas articulou a criação não só do curso de Direito da Ufac, como a própria instalação da instituição. A impressão que dá é que até na academia, a memória tem vida curta ou, quem sabe, seletiva.

Homenagem

Uma sugestão para quem não conhece a história é ler o livro “ Voltei e vim para servir “ que resulta de uma extensa pesquisa realizada pela esposa, a escritora Edir Figueira Marques, parceira de vida e ideais do desembargador Lourival Marques. Esse talvez seja o livro que falta na biblioteca da UFAC. É um testamento da vida de um homem que moldou as fundações da justiça e da edução no estado. Uma ótima leitura também para os estudantes de Direito. 

Sugestão

Aliás, não se sabe porque até hoje o livro, tão importante para a história da instituição, não foi lançado na UFAC. Parece até uma daquelas ironias do destino — ou talvez uma pequena distração administrativa? Em todo caso, fica a sugestão de torná-lo leitura conhecida no curso de direito.  Tanto pelo seu valor histórico quanto um sutil lembrete de que, às vezes, os heróis locais são esquecidos nas prateleiras da burocracia.

Apoio Político

E a dança das cadeiras na política continua. Um governador popular e carismático como Gladson Cameli logicamente é desejado como aliado em qualquer campanha. A reunião com Marcus Alexandre, sob a bênção de Sérgio Petecão, parece mais um enredo de série política do que um mero acordo partidário. Quem sabe não é o prelúdio de uma aliança que definirá o futuro político local? Aguardando as cenas dos próximos capítulos.

Mudanças Climáticas

O Relatório sobre o Estado Global do Clima soa quase como um roteiro de um filme distópico, não é? E citar “Duna” aqui é particularmente irônico; no mundo fictício de Arrakis, lutar por recursos e sobreviver em extremos é o dia a dia. Enquanto isso, aqui na Terra, ainda temos quem trate as mudanças climáticas como ficção científica. O paralelo entre a ficção e a realidade é um lembrete claro de que, talvez, deveríamos prestar mais atenção às lições que a ficção pode nos ensinar sobre sobrevivência e sustentabilidade.

Rio de Janeiro

Uma sensação térmica de 62,3°C no Rio é o tipo de número que esperaríamos ver em um painel climático em Arrakis, não na Terra. É uma cifra que ilustra não só a urgência da crise climática, mas também a estranha tendência humana de adiar a ação até que o inimaginável aconteça. Talvez seja hora de olhar para esses números não como recordes a serem quebrados, mas como alarmes que não podemos mais ignorar.

Ironia e urgência

Neste cenário, tanto o heroísmo esquecido quanto a política climática são lembretes de que a realidade muitas vezes rivaliza com a ficção em termos de ironia e urgência. Seja na preservação da memória de líderes visionários ou na batalha contra as mudanças climáticas, parece que o desafio é lembrar e agir antes que se torne tarde demais.

Indígenas

Nessa crise hídrica atual, os que mais sofrem são os indígenas, os menos culpados pela devastação que altera o clima da Terra, que promove a elevação da temperatura a níveis absurdos. Os povos indígenas sempre pregaram o respeito pela natureza e fazem de seus territórios oásis de diversidade e o remanescente pulmão da floresta e dos ecossistemas. E são os últimos a serem lembrados nas soluções emergenciais contra a seca severa.

Noite histórica

Em uma cerimônia histórica, o escritor indígena e ativista ambiental Ailton Krenak tomou posse na Academia Brasileira de Letras (ABL) na noite desta sexta-feira (5/4). Em 127 anos de existência da instituição literária é a primeira vez que um indígena ocupa a cadeira.

Um novo tempo

 “Nós estamos virando uma página da relação da ABL com os povos originários. Eu venho para cá, um espaço da lusofonia, trazendo as línguas indígenas para um ambiente que faz a expansão da lusofonia. Torço para que haja uma mudança na ABL e outras diversidades étnicas que temos no Brasil também possam ganhar espaço".disse Krenak a jornalistas. Em sua posse, uma plateia composta pelos mais ilustres imortais e por indígenas de todos os cantos do país.

Currículo

Krenak é ativista do movimento socioambiental e de defesa dos direitos indígenas. É comendador da Ordem de Mérito Cultural da Presidência da República e doutor honoris causa pela Universidade Federal de Minas Gerais e pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Organizou a Aliança dos Povos da Floresta, que reúne comunidades ribeirinhas e indígenas na Amazônia e contribuiu para a criação da União das Nações Indígenas (UNI). É coautor da proposta da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) que criou a Reserva da Biostera da Serra do Espinhaço, em 2005, e é membro de seu comitê gestor.

Livros

Entre os livros mais recentes, estão Ideias para adiar o fim do mundo (2019), A vida não é útil (2020), Futuro ancestral (2022) e Lugares de Origem (2021). Aliás, deixo aqui para o fim de semana uma reflexão de um dos livros do novo imortal e filósofo da esperança.

Para meditar

Como diz Ailton Krenak: “Nosso tempo é especialista em criar ausências: do sentido de viver em sociedade, do próprio sentido da experiência da vida. Isso gera uma intolerância muito grande com relação a quem ainda é capaz de experimentar o prazer de estar vivo, de dançar, de cantar. E está cheio de pequenas constelações de gente espalhada pelo mundo que dança, canta, faz chover.” 

Lição

Ainda Krenak em seu livro fundamental “Ideias para adiar o fim do mundo”: “Cantar, dançar e viver a experiência mágica de suspender o céu é comum em muitas tradições. Suspender o céu é ampliar o nosso horizonte; não o horizonte prospectivo, mas um existencial. É enriquecer as nossas subjetividades, que é a matéria que este tempo que nós vivemos quer consumir. Se existe uma ânsia por consumir a natureza, existe também uma por consumir subjetividades — as nossas subjetividades. Então vamos vivê-las com a liberdade que formos capazes de inventar, não botar ela no mercado.” Para pensar!

*Socorro Camelo é jornalista e escreve com colaboradores nesse espaço de segunda a sábado.  Contato: [email protected]

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