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Ser Mulher

@derepente50mais

01/04/2024 às 08h32
Por: Redação Fonte: Acreaovivo.com
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Ser Mulher

Por Giselle Moraes

Vasculhando meus escritos, reorganizando emoções acumuladas por dias tensos e pensamentos agitados me senti paralisando em alguns registros e procurando entender o processo de reencontro que meu ser mulher percorreu nos últimos anos.

O ano foi 2018, num outubro escuro, sem janelas e sem portas. Estava eu, enclausurada na minha dor e a escrita me salvou, mais uma vez. O texto abaixo dar início a uma página no Instagram, com o pseudônimo @catadoradeossos no qual pude expressar todas as minhas emoções, sem medo do julgamento ou da “vergonha” do fracasso. Afinal, ali eu era somente uma anônima. E foi assim por muitos meses.

“Mulheres que correm com lobos faz parte da minha leitura há mais de 10 anos, quando amigas se reuniram em roda de conversa para ler, sentir e trocar. Por muito tempo permanecendo na minha estante, junto com luz e sombra, vivências de um relacionamento se construiu sob seu olhar distante.

Treze anos construídos, alegrias, desafios, tristezas, mas sempre companheirismo e parceria. Assim meu coração pulsava e num abrir e fechar de olhos o alicerce se mostrou em areia movediça. E meus ouvidos, negando o escutar, sentiram bem distante as palavras que latejam no coração: "eu não quero mais ficar casado."

A catadora de ossos é um conto que faz parte do livro, nem mesmo lembrava de La Loba, uma amiga me conduziu a esta memória. E ao ler as lágrimas foram caindo e tocando as páginas amareladas e quase esquecidas no canto do meu quarto, e a cada palavra lida fui me dando conta dos ossos espalhados na minha alma.

Sete dias de alma solitária, do choro escondido no travesseiro, do sorriso automático e a vontade de sumir no espaço.

Um grito surdo e La Loba chega ainda com todos os ossos espalhados, esmigalhado, triturado. Vai levar um tempo, meu ser mulher me invade e a sensação de sair correndo, me faz escrever, trocar, dividir e renascer.

Aqui estou com vocês e a catadora de ossos sai das sombras, buscando a luz. ”

Li e reli o texto que há 5 anos escrevi, e de fato, parece uma vida antiga, na qual não consigo identificar o roteiro. Existiu, com toda certeza. Os indícios são muitos, afinal faz parte de uma vivência dolorosa e com marcas na alma. E aqui, tenho vontade de sorrir, pois quantas histórias tenho para contar. Algumas com lágrimas e boas gargalhadas, outras com boas gargalhadas e lágrimas.

E quando esbarro em espaços, como os de hoje, no qual me sinto cansada e com horizontes escurecidos, as palavras novamente são meu refúgio e libertação. Na escrita faço a catarse do sentir e deixo ir o desalento, o desencanto e me reencontro. Mesmo que seja de pouquinho em pouquinho.

Então eu penso, memórias são presentes para a eternidade e nos lembra que tudo passa, e como passa. Assim, quando meu casamento chegou ao fim, na dor da incerteza e medo do desconhecido. E segundo meu próprio relato, tive que juntar meus ossos, reconectar com a mulher que existia em mim e que estava esquecida e sozinha. As memórias nos salvam dos abismos e afinal, tudo passa.

Quando ciclos se fecham a insegurança nos aborda, por um motivo simples e encantador, o novo chega. E não estamos habituados com esta perspectiva, parece ser mais simples pisar em terrenos já conhecidos. Precisamos confiar nas escolhas e seguir. O amanhã se faz presente.

Um caminhar turbulento, percorri vales escuros, a teimosia insistindo em cenas repetidas. Caí e levantei, várias e várias vezes. A catadora “lambeu” todos os ossos. E isto é bem do ser mulher que me representa, não deixo migalhas, nem rastros ou fios soltos.

No anonimato me salvei e hoje sou grata a catadora, ela me vestiu de uma nova mulher. Muito mais forte e resiliente. Não tenho mais vergonha ou sentimento de fracasso. Sinto gratidão pela jornada.

E a cada novo traçado, me permito encontrar respostas e eliminar uma culpa incoerente e dominante, que aprisiona e sufoca, lentamente. 

Em alguns instantes admiro os anos vividos e as experiências trocadas e o que mais forte lampeja em mim é o sentimento de gratidão pela mulher que fui, seja ela catando seus ossos, seja ela apaixonada, seja ela amante, seja ela mãe, filha ou irmã. Ela é sempre a mulher que me veste e representa.

E saindo do casulo, aquela página de uma rede social, feita um dia para lapidar uma dor, hoje registra um passo de libertação e conecta com um novo ciclo @derepente50mais.

Na entrega me permito ser. Simplesmente ser. E ser mulher é sempre uma jornada de intensa transformação.

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Sobre Professora, Fonoaudióloga e Terapeuta em Comunicação Positiva e Meditação. @respirecomgi
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