Por Golby Pullig
Não há uma nuvem sequer no céu. Só o infinito azul — aquele azul que dilata as pupilas — e a tarde fresca, que traz um vento suave, mesmo que o sol lance sobre este lado da terra seu ardor veranil. O silêncio do céu sem nuvens nos envolve como um fio tramado na inconsistência dos dias calmos, dias sem nuvens, dias de vento fresco, de sol ardente, em que o temor de que algo se rompa a qualquer momento é latente, e grita.
A roupa seca no varal balança no ponto exato de ser (re)colhida: deixei por lá, apenas para vê-la sacudir agitada por sua leveza, coisa rara de se ter por esses dias. A respiração é cuidadosa e reflete o medo de quebrar essa fina camada de paz que se fez visita por instantes. Talvez se vá, melhor não correr o risco.
Uma blusa rosa-velho está nas mãos. Foi rejeitada não pela cor. Foi a textura que desagradou. A textura. Como não pensar nisso sempre? A delicadeza precisa imperar nas vozes, nos toques, nas roupas. Aspereza não orna com beleza, mesmo a bruta. Vejo tudo isso enquanto me lambuzo de sol, de um céu sem nuvens, de bichos pequenos passando, o chiado do silêncio que toma conta do lugar, até que uma certeza é lançada no ar em alto e bom som: “Mamãe, Deus existe.”
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