ACRE EM NOTAS | Pé de Meia

Por Socorro Camelo e colaboradores*

Algo de podre

Se Shakespeare escreveu em Hamlet que há algo de podre no Reino da Dinamarca, no Acre de hoje. pode se dizer que há algo de podre no comando e na atuação do IAPEN, órgão policial responsável pelos presídios e por controlar a execução criminal no Estado.

Mortes

Depois do massacre na Segurança Máxima, das fugas constantes de presos, da ameaça de rebeliões, do tratamento humilhante aos parentes de presos, proibindo visitas, garantidas constitucionalmente,  por qualquer motivo, da morte de um detento por dengue em Cruzeiro do Sul, novas denúncias surgem. Uma suposta briga entre detentos de uma cela provocou a morte de dois deles, na acpital, por golpes de estoque, arma artesanal perfurante que não poderia estar ao alcance dos presos. E, para completar, houve a evasão de um preso “faxina”, como são chamados os de bom comportamento, que têm autorização para trabalho interno fora das celas.

Sucessão

Essa sucessão de trapalhadas e de falhas absurdas mostra que é preciso uma intervenção profunda no sistema. Nos últimos dias, houve reunião entre o IAPEN e o Ministério Público, fiscal das execuções penais e não se divulgou o que foi acertado no encontro. Não é normal que o sistema prisional acumule tantos incidentes.

Regras

O Brasil é signatário do Pacto que instituiu as Regras Mínimas das Nações Unidas para o Tratamento de Reclusos, também chamadas de Regras de Nelson Mandela, que determina, logo em sua primeira regra que “todos os reclusos devem ser tratados com o respeito inerente ao valor e dignidade do ser humano. Nenhum recluso deverá ser submetido a tortura ou outras penas ou a tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes e deverá ser protegido de tais atos, não sendo estes justificáveis em qualquer circunstância. A segurança dos reclusos, do pessoal do sistema prisional, dos prestadores de serviço e dos visitantes deve ser sempre assegurada”. Alguém deveria lembrar essa norma ao IAPEN.

Perigo

Um assunto que deve se tornar da maior importância este ano. Nos Estados Unidos, foram encontrados vídeos de nível profissional, manipulados por inteligência artificial, que mostravam cenas pornográficas falsas com a cantora Taylor Swift. Não se localizou ainda o autor do vídeo, que seria um aperfeiçoamento das montagens chamadas de “deep fake”. O que isso tem a ver com o Acre ou o mundo? Da mesma forma que essa tecnologia serve para a pornografia, pode ser usada, também, na política, na chantagem contra pessoas comuns e líderes.

Fake

Se em eleições passadas já se usava a manipulação, a montagem de falsas denúncias contra adversários, agora, com os sistemas de AI disponíveis em qualquer computador, em plataformas acessíveis e gratuitas, essas mentiras poderão se tornar poderosíssimas armas eleitorais, para confundir a população. Pode-se atribuir ao adversário qualquer comportamento, depoimento, mensagem. A verdade nunca esteve tão difícil de ser encontrada. Que todos se preparem para um futuro muito perigoso.

Falsificação

Exemplo de estelionato com uso de computador, ainda em termos relativamente amadores, acontece aqui mesmo no Acre. Ontem, operação da Polícia Federal prendeu o suposto responsável pela falsificação e venda de falsos diplomas de médicos para pessoas não habilitadas. que atendiam em hospitais e postos de saúde. O homem detido, cuja identidade não foi revelada, acumula denúncia de golpes como este em mais três estados.

Gabinete

Nessa crise aberta em Brasília com a investigação de atuação paralela e ilegal da ABIN para investigar políticos, magistrados, desafetos e até aliados de Bolsonaro, o Acre entrou de cabeça ou de gaiato no navio. Tudo por meio do  advogado Ricardo Wright Minussi Macedo, que é acusado pela Polícia Federal de ser o responsável por relatório da ABIN que falsamente procurou ligar o ministro Alexandre de Moraes, do STF ao PCC. O investigado é nomeado para cargo no  gabinete do senador Alan Rick, já tendo inclusive sendo seu defensor em vários processos. Essa é uma amizade perigosa.

Programa

O presidente Lula lançou ontem o programa Pé de Meia, que vai dar R$ 200 mensais aos estudantes do ensino médio de escolas públicas, dinheiro que será liberado mediante comprovação de frequência à escola. Serão R$ 2,4 mil anuais, que serão um reforço para estudantes e famílias e apontam para uma mudança radical de rumo na Educação brasileira.

*Socorro Camelo é jornalista e escreve neste espaço, com colaboradores, de segunda a sábado.