Por Giselle Moraes
Uma experiência em palavras ou seria um desabafo entrelinhas?!
Quase 10 anos atrás acordei desesperada, com uma sensação horrível de finitude, um peso no coração, suava frio e meu corpo todo tremia. Seria o fim?
Não sabia o que fazer, mãos e braços não seguiam o comando racional, com esforço na respiração, busquei centralizar meus pensamentos, alinhar a coluna e respirar fundo. Não consigo definir o tempo, mas aos poucos comecei a acalmar e controlar a vontade de chorar, gritar ou simplesmente paralisar. No entanto a angustia permanecia, petrificada dentro de mim.
Na manhã seguinte, de uma noite desperta, olhei pela janela. E o que vi? O mar ao longe, ondas suaves e o sol nascendo. Sim, eu estava de férias, na praia, quando tive a primeira grande crise de ansiedade. Mas, até então, eu não tinha consciência deste fato. E achava um absurdo ter passado mal no paraíso.
Levantei e fui buscar o posto médico, afinal poderia ser a pressão, o coração, qualquer coisa muito grave. E lembro do médico, um senhor com certa idade, que já deveria estar perto da aposentadoria, olhar nos meus olhos e dizer: a senhora teve uma crise de ansiedade noturna. COMO ASSIM ANSIEDADE NOTURNA? Nas férias? Na praia? No meu lugar favorito!
E assim, iniciou esta dança melancólica e amarga entre a terapeuta experiente, com cursos e formações na área da saúde mental e a mulher que se negava sofrer, que trabalhava exaustivamente, mãe, esposa, filha, amiga e tantas outras denominações.
Primeiro a negação, afinal seria impossível nas férias ter uma crise, e foi então que ao retornar para casa e iniciar um processo terapêutico, reconheci em mim a verdade. Só me permiti sentir quando relaxei corpo e mente. Foi no mar que me entreguei a vulnerabilidade do ser e desmoronei. O mar me salvou do naufrágio interno. Pois, com certeza caminhava para um adoecimento invisível e muito mais desastroso.
E assim reconheci a dor da ansiedade.
Inicia muito sutilmente, como uma doce amiga, vai chegando e apresenta seus sinais discretos. Num sussurro de insegurança, um leve tremor no corpo, a palpitação sem causa, o medo, a desconfiança e você não se dar conta que está entrando num labirinto. Tão ardilosa que se comprime com o pulsar do coração e te confunde, ilude e se permitir te enlouquece.
Na confusão de tantos sentimentos aparece, também a vergonha, a incapacidade de pedir ajuda. Vão achar que sou fraca, não quero pena das pessoas. E a fraqueza do espírito nos carrega para abismos profundos, até que a dor nos preenche e precisamos sair deste buraco negro.
Como um pesadelo, as crises se repetiam. E por muitas outras noites passei, acordava aos gemidos, aos prantos e somente não gritava por medo. Medo de não me reconhecer. E dizia ao meu corpo: respira! Você já sabe o caminho. Uma grande contradição para tudo que vivia. Cada vez menos compreendia, quanto mais conheço, mais dificuldades eu tenho de trilhar, como um filho errante, que busca seguir os passos do pai e tropeça diante das suas incertezas e insegurança.
Minha vontade era gritar!!!
Talvez fosse a porta para a minha libertação, tudo que me preenche de forma limitante, me enfraquece. E comecei a questionar pessoas, espaços, relacionamentos, trabalhos e as minhas escolhas incertas e cheias de cicatrizes.
Vivendo um processo terapêutico importante, me permitindo olhar para dentro, observando a vida, buscando o reencontro com um eu perdido. Nesta trajetória as respostas surgiram, ainda tímidas e receosas. Mas, existiam e estavam guardadas e represadas dentro daquele arcabouço, criado por uma necessidade desprezível de agradar o outro.
Assim, rastejando meio no escuro, escutei a minha própria voz: Respire! Com apoio da terapia iniciei a conduzir um grupo de respiração consciente e meditação. E pessoas começaram a me procurar buscando ajuda para insônia, medo de falar em público, inquietude e como eu já esperava: ansiedade e pânico.
Como ajudar estas pessoas? Se ainda, mesmo com menor frequência, ainda vivia as crises de ansiedade e medo. Sábio como a natureza, meu corpo conduziu todo este processo, e a cada grupo sentia em mim a libertação da angústia. Passei a perceber os gatilhos, a ser amorosa com as minhas incertezas e um florescer incrível alcançou a maturidade da mulher sendo grata pela jornada.
Os encontros do Respire com Gi não me curaram, pois cura é algo inacessível quando se fala de emoções, sentimentos, vivências e dores. Houve em mim a compreensão, o auto amor e a empatia. Compreendo exatamente o relato das pessoas, quando se fala em transtorno de ansiedade e pânico. Lógico que não os vivencio e nem tenho a arrogância de falar que sei o que estão está sentindo ou passando. Isto, também, é uma incoerência. No entanto eu acolho aquele sentir, pois sei que é uma dor “quase” sem fim.
Meu trilhar no campo da saúde mental trouxe o embasamento teórico, partilhei histórias, conheci pessoas, vivencias práticas dentro de alguns hospitais manicomiais. E que, em algum momento, irei colocar em palavras no papel. Hoje, o relato vem da história da mulher na maturidade, profissional com sucesso, mãe, filha e na época esposa. Sem motivos para surtar!!!
Doce ilusão de um estereótipo cansativo e exaustivo das mulheres de nossa geração, a Mulher Maravilha ou a Super Mulher. Precisamos correr tanto e acertar em tudo e dar conta do todo. E aqui não irei falar dos hormônios, do machismo e do preconceito. O desabafo é de uma mulher 50+ que sim, cansou aos 40, sucumbiu diante da exaustão e se permitiu recomeçar.
A força se encontra em nossas construções e se preciso for refazer a rota, que seja e não haja revolta, e sim libertação. E se tiver medo, vai com medo mesmo.
E quando muito precisar: GRITE!!!!
Depois, feche os olhos e RESPIRE!
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