Por Giselle Moraes
Em briga de marido e mulher ninguém mete a colher! Sou da geração que esta frase era ensinada e cultivada. Já escutou?
Uma questão de educação, onde já se viu, ficar se metendo nos problemas do casal, eles que se resolvam. E assim fomos criando o estereótipo da agressão verbal, física e psicológica. Com o conceito da privacidade, que muitas vezes disfarça a violência e o medo.
Culpa da sociedade ou desculpa da sociedade para explicar, anos e anos, de luta por igualdade, respeito e dignidade. Muitas conquistas, e inúmeras mulheres violentadas no corpo, na alma e no coração. Tantos relatos encontramos, que poderia escrever linhas e linhas com histórias de vitória, de tristeza e de morte.
Tantas divas que perderam suas vidas por amar demais, se entregar demais e viver uma verdade não aceita pela grande maioria. Fazendo um parêntese, na história de uma mulher, que se tornou o primeiro caso famoso de feminicídio no Brasil, Ângela Diniz. Sua trajetória criou grande questionamento, na época, pois Ângela foi assassinada pelo namorado. Mas, Angela era uma mulher livre, separou do marido e vivia a sua verdade como bem queria, era falada em todas as bocas, seu atual companheiro largou mulher e filhos para ficar com ela, E numa briga de casal ele a matou, e gera então o conflito "como uma mulher desarmada é morta por quatro tiros e vira a vilã da história? ”
Entranhada nas garras do julgamento, Angela mereceu morrer? Algumas matérias escrevem que ela procurou o seu fim! E o seu assassino, diz que a amava loucamente. Então em nome da loucura, do amor que leva ao desespero, justifico erros e fatos. Afinal, Angela não seguiu os moldes ditados pela sociedade.
Não estou a refletir ou julgar atos ou comportamentos, simplesmente expondo sobre as respostas que encontramos para a violência contra NÓS mulheres. E vejo, muitas de NÓS, sendo agressoras e juízas de outras mulheres. E nem estou aqui para propagar o amor livre ou a falta de respeito para com qualquer indivíduo, independente de gênero. Acredito na liberdade de escolha, de fato, nos meus 5.0+, nem um pouco disposta a entrar no crivo de julgar a trajetória, seja de homens ou de mulheres.
Afinal, todas nós mulheres, temos histórias para contar e queremos ou não recontar, as muitas vezes que nos calamos, as agressões que fingimos não ver, a lágrima escondida, o choro reprimido ou grito estrondoso. Em toda a dualidade existente sempre teremos consequências, seja da submissão ou da admiração.
E assim, fatos e fatos, invadem nossas casas, mentes e as vozes que se multiplicam por todos os lados. Já estamos de certa forma “acostumadas” com a palavra violência doméstica. Mas, daí o Brasil é surpreendido com uma mulher famosa, linda e rica. Casada há anos com um homem famoso, rico e bonito. Estampada nas páginas de todos os veículos midiáticos declarando que é vítima de agressões verbais e físicas. E o Brasil todo para! E todos os especialistas, blogueiros, gurus, famosos e não famosos passam a julgar, questionar e de repente aquilo que é fato na casa de muitos, escondido debaixo do tapete, vem à tona, como se este fosse, assunto novo e inédito, nos lares mundo a fora. Como esta mulher permitiu? Ah isso é armação! Não acredito! Pareciam tão felizes! Mas eles são ricos! E a pergunta reverbera: Como?????????
Confesso que o excesso de conteúdo, cansa minha vã e pequena paciência, com o circo que se arma, diante da vida de famosos. Mas, precisamos enxergar o que está além da palavra e da notícia novelesca, identificar e desmistificar o fato de que isso também acontece com pessoas ricas, famosas ou de qualquer padrão que possamos julgar como superior. O fato é, em pleno século 21, na era da inteligência artificial, nós mulheres ainda sofremos ameaças, agressões, violência física e emocional por companheiros, amantes, amores e não amores. E a pergunta ainda reverbera: Como???????
E assim, são tantas Anas, Angelas e anônimas. Ricas ou pobres! Louras ou morenas! Em tantos espaços, cada uma com sua história, buscando ser, simplesmente mulher. Em toda a sua beleza, com força e coragem, e se permitindo doce e frágil, vivendo sua sexualidade e desejos. Com honra, sem julgamentos e vivendo a verdade que representa cada escolha de uma mulher. O grito é de caminhar junto, o sussurro é de existência, a voz é de luta por dignidade, a espera de igualdade e a vitória de liberdade.
Que nossos filhos e filhas, deste novo tempo, possam dizer: “em briga de marido e mulher, todas NÓS levantamos a colher”, e façamos barulho, e com um basta à violência, sejamos Mulheres e sejamos Livres
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