Por Talita Montysuma
Quem é fã de literatura já deve ter, em algum momento de sua vida, tido contado com alguma obra do querido Nelson Rodrigues, autor de textos que retratam a vida pelo buraco da fechadura, onde deixava amostra o lado do infamiliar da sexualidade humana, lugar este que nos fascina e nos dão medo uma forma fetichista do voyerismo da vida cotidiana.
Dentre as obras de sucesso uma delas chamada O beijo no asfalto me veio a memória recente, a obra é a história de Arandi um bancário que ao presenciar um acidente onde tenta socorrer o rapaz é surpreendido pela solicitação de um último pedido, que é um beijo de amor, Arandi tomado por um sentimento de empatia, realiza esse último desejo lhe dando um carinhoso beijo de amor.
No entanto, quem está presenciando a cena é seu sogro e um jornalista de caráter duvidoso que transforma a vida do pobre Arandi que só queria viver em paz e ainda gozar da lua de mel com sua Selminha, mas tudo que conseguiu foi uma foto do beijo nos jornais, uma acusação de crime passional, pois a matéria dizia que ele e o defunto tinham um caso. No desenrolar da história, a cunhada que sentida atração se declara lhe propondo uma fuga e garantias de que ele poderia vivenciar suas experiências sexuais livremente, e por fim seu sogro, que não conseguia perdoar seu genro por ter beijado outro homem que não fosse ele mesmo, o pai de Selminha o amava secretamente e esse amor o leva a matar Arandi pelo motivo mais vulgar, o ciúme.
E aqui abaixo da linha do Equador em Pindorama, na Morada do Sol, algo muito “Nelsoniano” acontecia, que acabou tomando as redes sociais e jornais pela peculiaridade do caso exposto, pois nada como praticar o voyerismo do buraco da fechadura no aconchego do nosso lar.
Por isso vamos aos fatos, em um dia qualquer, em uma hora qualquer, uma moça qualquer pega o telefone de seu pai e lá pelo buraco da fechadura cibernética em uma leve e despretensiosa invasão de privacidade a verdade nua e crua com textos de juras de amor, pix, vídeos e fotos quentes ela descobre edipianamente que ela e seu pai dividiam o mesmo homem.
E com a ira e desejo de vingança escorrendo pelo cano da boca de que só quem foi traído sabe, ela expõe isso nas redes sociais, prints de conversas, os vídeos e fotos o amor do avesso posto em ato e essa história extraordinária cheia de plot twists, prisões, ameaças de morte, carro queimado e linchamento começa a se desenhar para um fim. O genro, em entrevista recente, disse o quanto sua vida era difícil por conta da fixação do sogro por ele e não terá um fim tão dramático quanto os contos de Nelson Rodrigues.
E o que resta para nós voyeres da vida alheia? O que restará para nós é ir dando conta dos nossos próprios fetiches, com a porta e fechadura bem fechada e esperar um outro caso tomar conta das redes de novo já que Nelson está morto e não temos mais suas histórias que nos estigavam semanalmente em sua coluna “A vida como ela é” para dar vasão as nossas fantasias infantis bissexuais perverso-polimorfo.
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