Por Talita Montysuma
Recentemente em fui provocada pelo Anderson – um amigo desses que não se encontra por aí facilmente e que você vai levar para a vida toda – a pensar sobre uma música que ele escuta ao passar em um local onde havia pregações de paraíso, essa música falava de esquecer o passado e, pensando nisso, ele traz para roda o texto de Freud de 1901 “Sobre a psicopatologia da vida cotidiana”.
Em resumo, o texto freudiano irá discorrer, na verdade, sobre o que foi esquecido para encobrir como forma de defesa psíquica um desejo que julgamos não podermos realizar. Sim, nosso aparelho psíquico – acho assim, pois não estou falando da fisiologia do cérebro, mas o que a gente chama de pensamento – faz pegadinhas para que a gente possa lidar com algumas situações, o que Freud chamará de recalcado.
Então, ao longo do discurso e narrativa da vida, vamos esquecendo coisas que não queríamos para tentar esquecer coisas que gostaríamos de esquecer. Isso pode ocorrer como um equívoco linguístico de nomeação e isso acontece desde o nome próprio a outra qualquer nomeação.
O que Freud diz é que tudo que escapa na forma de esquecimento durante nossos afazeres pode ter relação a alguma coisa dentro da construção metafórica e metonímica do pensamento e encobre algo que o sujeito “precisa” esquecer.
Ultimamente dentro da minha análise fico pensando, o que mais tenho escondido de mim que preciso resolver? Porque é isso. Quando a gente esconde, a gente não esconde pro outro, mas para si mesmo – eu não estou falando de coisas simples, mas de algo realmente difícil de lidar.
Mas infelizmente, como diria uma passagem bíblica de Marcos 4:22, “Pois nada há de oculto que não venha a ser revelado, e nada em segredo que não seja trazido à luz do dia”. O que queremos esquecer uma hora será revelado, como? Por meio de um estado depressivo, ansiedade, dores de cabeça, dor no corpo, fobias e todas as formas de manifestação que hoje a medicina moderna chama de transtorno, doenças, medicamentos e etc.
O sofrimento vem porque operamos pela lógica da culpa, e o que resta a um culpado que não seja a condenação? Mas se talvez a gente começasse a operar pela lógica da responsabilidade “errei e o que posso fazer para resolver?” acredito que em muitas situações o que é possível fazer é reduzir danos quando não conseguimos resolver ou fazer uma reparação, mas penso que o mais importante de tudo isso é não ter vergonha da sua história e isso exige que pensemos de forma crítica nas nossas atitudes, admitir nossas responsabilidades diante da desordem e sofrimentos entre as partes, pensar nos ensinamentos que essa experiência nos proporcionaram e seguir em frente, como diz a Dory, a peixinha que tinha perda de memória, mas lembrava do que era realmente importante, que é o carinho e apoio das pessoas que nos amam (e isso é rotativo em algumas situações), continue a nadar.
Mín. 21° Máx. 31°