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Uma vida (extra)ordinária

A escuta foi feita nas mais diversas situações dentro do consultório, fora do consultório, mas o ápice foi em uma fuga da natação e entre pastéis com caldo de cana, suco de graviola e gargalhadas

20/09/2023 às 10h20
Por: Redação Fonte: Acreaovivo.com
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Uma vida (extra)ordinária

Por Talita Montysuma

Essa semana escutei muito a seguinte frase “queria ter uma vida normal”, “não vejo a hora da minha vida voltar ao normal”. A escuta foi feita nas mais diversas situações dentro do consultório, fora do consultório, mas o ápice foi em uma fuga da natação e entre pastéis com caldo de cana, suco de graviola e gargalhadas.

Lembrei que quando era pequena, a minha vida futura sempre permeava no meu imaginário e em minha fantasia, eu estava sempre rodando o mundo anonimamente, não fantasiava em ser famosa para ser amada por todos, mas sim para viver aventuras, conhecer pessoas, culturas, sem muitas expectativas.

Mas quando pergunto para as pessoas, curiosamente, ter uma vida ordinária é hoje a grande questão da contemporaneidade. Quando escuto um depressivo é justamente isso, a vida é um parque de diversão onde, apesar do ticket lhe autorizando a brincar, ainda não chegou a sua vez, ele tem que esperar na fila. E como se você estivesse lá vendo todo mundo se divertir (ao menos é o que parece) menos você.

Mas então uma vida extraordinária é ter uma vida de parque de diversão? E veja a ironia da vida, o brinquedo mais concorrido é a montanha-russa, onde a emoção é justamente o sobe e desce do rolê, assim como viver a fantasia da contemporaneidade é sempre permanecer por cima, onde a gente se sente dono do mundo, onde nossa visão é clara e longínqua, onde a brisa é mais fresca e a risada frouxa e a felicidade faz morada, mas o silêncio e calmaria que precede o momento da descida é inevitável e a pergunta: a felicidade é necessária?

Isso é outra coisa, para uma vida extraordinária a felicidade é necessária? E para ser feliz tudo necessária mente tem que estar no topo da montanha-russa?

E a vida de quem quer tirar a vida pra ser feliz? Um morto pode ser feliz? Esse é o questionamento que Aristóteles fez no Livro X da Ética a Nicômaco e dos heróis, a vida de quem luta contra um sistema, porque quem trava lutas necessita ter capacidade de elaborar muitos lutos, pois ao longo das lutas vamos perdendo coisas, pessoas e sonhos.

A vida extraordinária tem uma estética, entra nesse lugar onde corpos de Apolos, loiro, ariano, cheiroso, corajoso, ousado, higienista e cheio de certeza registrado em uma foto em algum lugar paradisíaco no Instagram. Na vida extraordinária não cabe a descida da montanha-russa, que é onde temos que ir de tempos em tempos, porque a vida real passa pelo feio, fraco, fedido e medroso, a vida é por muitas vezes ordinária, xoxa, capenga e anêmica.

E não se enganem, todo remédio tomado suspende o tempo. O sujeito fica caminhando em câmera lenta na montanha-russa da vida, o sujeito não sobe nem desce, não tem o extra e nem o ordinário, a vida é morta. Penso que no tabuleiro do Jogo da Vida,vence quem consegue não se ludibriar quando a vida está no topo da montanha e não sucumbe em desespero quando o carinho desce, porque a vida é assim, dinâmica e (extra)ordinária.

P.S. O título e a ideia vem da discussão com queridos amigos Veronica e Anderson.

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Maria Gabriela Há 1 ano Rio Branco AcesA vida é sobre o agora, o real, mas estamos sempre buscando a fantasia o ideal de perfeição e felicidade.
ElisaneHá 1 ano Paraná ???????????????????????????????????????????????????????????????? UAU!!!!!
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