Por Talita Montysuma
O ano de 2023 começou de forma inesperada e segue sem rumo. Acho que depois de muitos anos me dou conta de uma uni/verdade de que a verdade verdadeira só existe na minha cabeça e só faz sentido pra mim e mais ninguém; me dei conta de que fico preocupada com que os outros irão pensar, mas a verdade é que ninguém presta muita atenção e muito menos estão fazendo das vidas delas um mundo a qual eu sou o centro.
Veja só que coisa, não saberemos quem irá comemorar conosco nosso aniversário e muito menos quem irá ao nosso enterro, sendo assim, existe aí uma liberdade desesperadora (e voltamos ao último texto sobre angustia): ser livre é um preço tão alto que a sensação que dá é de que vamos nos fragmentar todos em mil pedaços e vamos sumir.
Mas entendam que a lógica aqui passa por várias liberdades, não existe e nunca existirá “A” liberdade, estaremos sempre presos a alguma coisa, mas ao ouvir de uma pessoa que ela nunca viajaria, trabalharia em outro Estado ou se divertiria sozinha, me bateu.
Quando questionei o porquê, a resposta foi rápida; “tenho medo”, lhe pergunto, medo de viver? E lhes respondo que só me bateu essa questão porque no fundo também tem algo meu ali, naquele medo de sair das vistas de quem aprova o que faço, ou me admiram e foi disso que me dei conta. Que, no fundo, a gente tem medo de ser a gente, porque não está no script da ideia do Outro.
O que estou dizendo é que estamos todos aqui e que fazemos coisas por que, de alguma forma, acreditamos que é isso que esperam de nós. Por exemplo, uma mulher que chega aos trinta anos solteira, ou um homem que não tem uma casa própria, ou um casal que ainda não teve filhos. E isso acontece em todas as áreas da vida, como ter um diploma, ou cargos, ser concursado ou não, enfim, existem regras veladas que a gente segue, mas as vezes não sabemos porquê.
Isso faz com que a gente acabe nos tornando distraídos do mundo, a gente passa a não perceber outras belezas, outras realidades, isso vai se tornando pequeno diante da imensidão que é o mundo, porque que consideramos uma pessoa bem-sucedida aquela que visivelmente está infeliz, mas tem um carro, um concurso público, casamento e filhos?
E por que não é bem-sucedido quem largou tudo e vive de fotografia ou vive de circo de rua? Já param pra pensar que as pessoas que vivem da arte de rua e são genuinamente felizes podem se considerar ricas fora do que podemos entender amplamente como riqueza?
Nas escutas que faço tem um lado que escuto das pessoas que é esse lugar da certa inveja que as pessoas têm da coragem de quem é mais autoral (vou usar essa palavra porque acho que é um pouco disso, é comum as pessoas irem à análise para não ser plágio de alguém). Já pararam para se perguntar o quanto de você é você e o quanto é os outros em você?
Se fizessem um livro da sua vida você leria? E que tipo de leitura seria?
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