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Angústia

Acredito que escrever vem da ordem do desejo uma forma de sublimar a angustia de escritora. Digo isso porque não consigo escrever se não estiver atravessada.

05/08/2023 às 22h01
Por: Redação Fonte: Redação
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Angústia


Por Talita Montysuma* 

 

Então pessoal tenho que confessar a vocês que me acho um embuste e ainda não me autorizo como escritora, pois na minha fantasia escritor é menos visceral e biográfico que eu, mas li recentemente que existe uma categoria de escrita que se chama autoficção e penso que talvez me traga aí uma réstia de esperança em relação a escrita e essa função (chamarei assim de função, pois acredito que escrever vem da ordem do desejo uma forma de sublimar a angustia) de escritora.

Digo isso porque não consigo escrever se não estiver atravessada com alguma questão, sendo assim, as vezes estou tão atravessada que paraliso e não sei para onde “escrever” e tem mais, se não bastasse isso ainda fico em um conflito monstruoso em que tema irei escrever por exemplo; essa semana a comunidade psicanalítica (da qual faço parte) teve seu brio ferido quando a Natália Pasternak que já seria absurdo perpetuar tais insígnias literais em um artigo ela foi além e escreveu um livro com (que espero não ofender os mais sensíveis) “cagando” regra do que é Ciência e do que não é de forma tão reducionista das ciências naturais que só vi nos que fogem da dor “das verdade” (notem que digo verdade, porque o processo é dialético).

O discurso é tão rasteiro que Galileu, Copérico e outros tantos filósofos que são o sustentáculo da boa ciência moderna e do positivismo cru, assim como grandes nomes da psicanalise encabeçados por Freud se reuniram tal qual no Banquete de Platão para beber e rir do discurso do mestre (esse lugar de suposto saber) da pobre moça que dentro de lógica neurótica de fantasia de controle do saber se fez desnuda.

Vemos que a nossa cientista se equivoca epistemicamente da questão, é impossível colocar a psicanálise a serviço do capital, que fragmenta os sujeitos em pedaços nomeia ele com um páthos e lhe dá drogas, o nosso trabalho é justamente o contrário, é levar o sujeito a uma visão integral de si de forma ética. A psicanalise é uma ética, um método de investigação e tratamento que está para a além do naturalismo, mas da linguagem.

Mas a minha angustia derradeira é o poema, a anedota, prosas, os textos que escrevo aqui, uma sensação de aturdito, sei da importância da discussão acima, mas também pensar poemas, escrever contos, contar as histórias que martelam minha cabeça, cartas de amor, escrever palavras que não sejam técnico cientifico, esse discurso do mestre que é “bobo”, minha angustia está nesse falasser das possibilidades do logos, quero ser na escrita e na vida fora da risca da letra, quero subverter a ordem das palavras, pensar anagramas, metáforas, metonímias a palavra tem forma, mas não tem formatação, pois quando proferida ao vento se transforma, descreve lugares que só existem ali, contam histórias que podem ser verdadeiras ou não, nos ajuda nos momentos difíceis. Mesmo a psicanalise não sendo poesia ela carrega em si a beleza do bem dizer e isso é como o "sal temperando a vida" (aqui me aproprio de Saramago).

Se me permitem, penso que nos traz questões, duvidas de sua eficácia ou inquietude, a gente poder falar com algo que chegue próximo a uma verdade, a gente tem que experienciar, escutar o contra ponto, não se deve chamar um método como a psicanalise de charlatanismo ou Freud sem ter passado no mínimo pelo processo analítico se não a gente cai no nosso próprio engodo, vira bobagem e piada.  

 

 

Talita Mortari Montysuma é psicanalista e psicóloga Especialista em Clínica Psicanalítica. 

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