Por Edir Figueira Marques
A violência está recrudescendo nas escolas do país, a (mau) exemplo de outros e que, por imitação ou ideologia circulante, também ameaça nossos estudantes acreanos.
O tema não é novo! Já em 1991, as Secretarias Estadual e Municipal de Educação planejaram o FORUM DE PREVENÇÃO E COMBATE À VIOLÊNCIA e realizaram um Seminário sobre VIOLÊNCIA NAS ESCOLAS, em que proferi uma palestra sobre suas CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS.
Irei reproduzir algumas reflexões a respeito, que acredito estejam ainda atuais. Ou pior, acrescidas de outras causas mais complexas, mais difíceis de serem combatidas.
Como dizia Saviani, diante de um problema é preciso refletir de forma radical, rigorosa e de conjunto para modificar nossas ações e buscar a solução do mesmo. Refletir de forma radical significa procurar as raízes, as causas e os fatores que tem gerado a violência cada vez maior no Brasil e no Acre.
Inicialmente, vale perguntar: será a violência consequência ou causa de outras violências?
Esta não acontece de forma linear e mecânica. Há vários fatores que condicionam a eclosão da violência, no entanto, a existência desses fatores não leva fatalmente à violência. Eles criam ambiente favorável ao surgimento desta reação, mas é preciso que aconteça a coincidência entre uma ação detonadora e um estado psicológico, biológico próprio da pessoa que a pratica.
Percival de Souza, jornalista e comentarista de assuntos criminais da Rede Globo, lembra-nos que por mais monstruoso e chocante que possa ser um crime, este comportamento é sempre de um ser humano. “E que os ingredientes da violência passam fundamentalmente pelas emoções (...) pelos caminhos do ódio, do medo, da avareza, do ciúme, da ambição, do ressentimento, da humilhação”. E estes caminhos são quase invisíveis, podendo acontecer com qualquer um de nós.
Não há um tipo característico de pessoas más de quem devemos esperar a violência a priori e, por isso, as evitarmos. O que existe são os preconceitos que nos faz achar que os negros e os pobres são sempre suspeitos e que os bairros periféricos são antros de criminosos, ladrões e traficantes.
Não será esta uma visão ideológica invertida? Por acaso, não serão eles vítimas da situação de opressão em que vivem?
De novo, Percival de Souza esclarece que existe uma espécie de relação direta entre frustração e agressão, necessidade e crime, miséria e marginalidade. Mas a criminalidade não é fruto só da miséria. Ela é também estimulada pelo arbítrio, pela corrupção e pela impunidade. Impunidade que corrói a credibilidade nas instituições de segurança e de justiça.
A propaganda consumista gera outro tipo de fome que também desperta desejos e necessidades que aguçam a cobiça. E se pratica todo tipo de terrorismo que significa uma triste demonstração de impotência. “A brutalidade vem a ser a violência dos fracos”.
Torna-se cada vez mais difícil a convivência em sociedade, onde a desumanização é crescente, a frieza, a indiferença, a desconfiança! Agride-se em vez de discordar; ataca-se em vez de replicar, de dialogar...
Então as pessoas se armam, clamam pela adoção de pena de morte, de cadeias de segurança máxima.
Mas a luta contra o crime não é uma guerra, e sim uma questão de política social. Esta luta é de todos nós. É preciso recuperar o valor da vida!
É bom lembrar que certas coisas não acontecem apenas com os outros. Nós somos a sociedade. Nós podemos ser as próximas vítimas ou os próximos criminosos!
A luta pelo trabalho, salário justo, moradia decente, educação e saúde é a luta pela dignidade, pela solidariedade, pela participação e democracia, valores que precisam ser restaurados em nome da esperança!
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